A CLOACA


Nada mais constrangedor, nos dias atuais, que a leitura do noticiário político dos jornais diários. Ou assistir e ouvir as notícias sobre o mesmo tema.

Só surgem aproveitadores dos cofres públicos. Uns cínicos. Corrompidos por natureza. Alguns diálogos revelados enojam. Uma profunda tristeza toma as consciências.

Nenhum sentimento de moralidade. De amor ao próximo. De vontade de servir à causa pública. Falam em valores republicanos. É a moda do momento.

Avançam, no entanto, nos cofres da República com um destemor próprio do pior dos facínoras. Uma gangue de celerados morais.

Quais as causas desta falência moral em que se encontram os assuntos públicos? Certamente muitas.

O carácter dos que se dedicam à política. Não são formados para a defesa da causa pública. Apenas se preocupam com a própria fortuna. Com o êxito de suas campanhas eleitorais.

O empresariado nacional permissivo em suas atitudes. Colaboram com a difusão das práticas corruptíveis. É preciso vencer. Não importa o custo e as consequências.

Os valores religiosos ibéricos, nos quais o perdão vem com o óbolo e a confissão. Pequem, o perdão vem depois. Não há nos preceitos religiosos avoengos espaço para o sentimento de culpa.

Vale tudo.

Pode se acrescentar o ridículo prazer da ostentação tão própria de determinados segmentos da sociedade brasileira.

É só passar os olhos nos bairros diferenciados das cidades brasileiras. Se recolherá o contraste indecente entre os edifícios de alto luxo e as comunidades carentes.

O brasileiro, quando enriquece, nos dias atuais, deseja demonstrar sua magnificência. Importa expor a riqueza gerada pelo Poder.

Estes traços, expostos em ínfima tradução, se ampliam e se tornam verdadeira elefantíase quando se trata de Brasília, em áreas do seu Plano Piloto.

O Distrito Federal, lançado no cerrado central, transformou-se em espaço de fragilização moral e de péssimo convívio social.

A promiscuidade entre os membros dos Poderes republicanos é nefasta. A Praça dos Três Poderes, que deveria ser o símbolo da harmonia e independência entre os Poderes, transformou-se em espaço público de diálogos inconvenientes.

Basta a leitura das últimas conversas entre os “figurões” do Estado nacional. A promiscuidade é plena. Quebram-se valores e preceitos. Vale levar vantagem.

Brasília – um dia conquista da nacionalidade – transformou-se em um covil de assaltantes dos cofres públicos. Uma cloaca moral.

Talvez, nesta época em que todos palpitam, seria oportuno seguir exemplos  de outros povos. Lançar as sedes dos Poderes da República em espaços diferentes.

Na Alemanha e na Bolívia, Executivo e Judiciário se instalam em cidades diferentes. No Chile, o Legislativo foi colocado à distância. Em outra cidade, a beira do mar.

Não dá mais para se constatar a promiscuidade entre membros dos Poderes existente em Brasília. Todos frequentam os mesmo ambientes. Tornam-se parceiros. Íntimos. Um erro.

São tantos os males do atual momento nacional – soma de um passado equivocado e obscurantista – que todo interprete falha nas análises.

No entanto, tem-se uma triste constatação. Os detentores do Poder já não se importam com a simplicidade dos hábitos.

Querem sempre mais. Avançam no erário. Tomam propinas dos agentes privados. Não se envergonham. Não se apiedam da miséria que os rodeiam.

Já não se pensa, como nos velhos tempos, quando dirigente proclamava:

“Não me tirem a gloria de morrer pobre”.

Hoje, seria o brado de um ingênuo.

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