XENOFOBIA, NADA PIOR


Muitos leram e a maioria já ouviu falar na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Os franceses fizeram deste documento um manifesto propalado por toda a parte.Ele teve grande influência em todos os movimentos libertários desenvolvidos nas três Américas. O direito de viver em liberdade e a igualdade entre os homens soavam como gritos de protestos.

Já não se podia viver sob o jugo de um estado colonizador. A pessoa merecia conquistar uma escala de valores que elevasse a sua dignidade. As elites de todos os países do Ocidente tornaram-se liberais.

A França, por seu turno, apresentava-se como guardiã dos direitos das pessoas. Discursos e mais discursos. Muitas censuras sobre o comportamento de outros povos e governos. O tempo se desenvolveu. Conheceram-se os tristes episódios da Argélia. O apoio ao governo Vichy. A dura perseguição aos judeus de Paris, recolhidos em um único domingo por toda a parte.

Tiveram idêntico destino de milhares de outras pessoas deportados para os campos de concentração e extermínio localizados em países, especialmente da Europa do leste. A França sempre procurou dar lições políticas aos demais povos e sempre se conduziu de maneira diferente. Os seus intelectuais costumam censurar a todos. Poucos examinam os acontecimentos de seu próprio país.

Dois sentimentos: um para uso externo e outro para uso interno. Agora esta dicotomia explode com nitidez. Os valores liberais são arquivados e a perseguição ao estrangeiro instala-se por toda a França.

Sarkozy, no auge da queda de prestígio, inicia uma dura perseguição contra os estrangeiros. Quer expulsá-los. Afastá-los do convívio conquistado em virtude das ondas de imigração ocorridas por toda a Europa.

É velha xenofobia, que levou a Europa a tantas misérias, retorna. Com toda a força. Espalha-se e cria violência contra os não-nacionais em todos os países, em graus diferentes. O mundo se tornou pequeno e os pobres navegam e caminham por todos as continentes. Chegam pelas maneiras mais inusitadas e, ao chegarem, perturbam o sossego dos bem instalados. Os organismos internacionais foram incompetentes na tarefa de elaborar políticos públicos para os fluxos imigratórios. Não foram capazes de conceber meios de preservar as pessoas em suas terras.

Permitiram a violação de valores e costumes. Difundiram hábitos consumistas livremente e agora buscam impedir que todos gozem das eventuais benesses produzidas. É lamentável que os franceses pratiquem atos de preconceito e exportem ódio contra o estrangeiro. As velhas mensagens humanistas se se transformaram em nacionalismo exaltado e sem respeitabilidade.

Os posicionamentos de Paris se espalham e chegam à Itália, onde os adeptos da Liga Norte se empolgam com os acontecimentos. Analisam aplicar normas idênticas às francesas. Em 2010 vive-se a Revolução Francesa pelo avesso. Agora já na importam os direitos de todos os homens. Só valem os interesses dos franceses. A universalidade antes pegada mostra-se mera quimera.

Não vale quando os interesses grupais são atingidos. Tornam-se as lideranças e povo intolerantes. Afastam os desiguais. Querem só os nacionais. O estrangeiro é o outro. Inimigo a ser abatido.

Valem as lições vindas da França. Elas demonstram como existe incoerência no mundo político entre as boas intenções e a verdade efetiva. Valem os interesses. Pouco importa os valores.

Em plena campanha eleitoral, é preciso ficar atento. Há candidatos que procuram hostilizar todos os países vizinhos. Uma ponta de xenofobia existe nesta atitude. A América Latina deve se manter longe e alheia destes acontecimentos europeus. Acompanhá-los e censurá-los. As ondas xenófobas não podem atingir nossas praias e nossas fronteiras secas.

Só os maus intencionados agridem os vizinhos ou outro ser humano. É preciso aprender a conviver com todos os povos, religiões e costumes.

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