Antonio Vicente Mendes Maciel, Antonio Conselheiro, vítima do arbítrio judicial?
Os tempos não são favoráveis ao Judiciário.
Todos os dias surgem fatos desabonadores sobre a conduta de magistrados.
Antes figuras consideradas intocáveis, tornaram-se objeto de críticas do vulgo.
Qualquer do povo observa e censura os hábitos e atitudes de muitos juízes.
Já disse alguém que a magistratura é o último reduto dos costumes aristocráticos.
As aristocracias feneceram por toda a parte e onde ainda permanecem merecem censuras como todos os demais segmentos sociais.
Neste clima de suspeita e aleivosias, aqui e ali, surgem novas revelações sobre atos impróprios praticados por juízes.
Liminares estranhas são concedidas e, passados dias, revogadas, gerando intranquilidade e custos para particulares e máquina administrativa.
Neste cenário, insere-se artigo publicado em jornal de Salvador.
Aponta a matéria algo extremamente grave.
Dá como origem do massacre de Canudos decisões judiciais tomadas por vingança.
Afirma mencionado artigo que, em 1896, o juiz baiano Arlindo Leoni, inimigo de Antonio Conselheiro, agiu arbitrariamente contra os habitantes de Canudos.
Estes estavam terminando a construção da Igreja de Belo Monte.
Adquiriram, em Juazeiro, madeiras para elaborarem o telhado do templo.
Leoni, o juiz, desafeto de Antonio Conselheiro, pressionou o madeireiro, que já havia recebido o valor da venda, a não entregar a mercadoria.
Foi além.
Afirmou que os moradores de Canudos desejavam invadir à cidade para receberem a madeira adquirida.
Oficiou o governador da Bahia solicitando força policial. Este negou o envio de tropa.
Leoni insistiu.
Nesta segunda investida atingiu seus objetivos.
Militares foram enviados.
Começaram as lutas contra os moradores de Canudos.
O final todos conhecem.
Um genocídio foi praticado pela República recém proclamada.
Aponta-se, pois, motivo ardiloso para se iniciar a Guerra de Canudos.
A origem da tragédia, portanto, teria causa no Poder Judiciário.
É tema relevante.
Merece análise por parte dos historiadores.
Referências.
Artigo de Alcir Santos
Alcir santos.br@gmail.com
Jornal A Tarde, Salvador, 10. 1. 2020, Secção: Opinião, página A2