Os gênios também erram.
Uma praga assola a humanidade.
Há séculos alguns agem sem limites.
Acham-se senhores de todas as verdades.
Não passam, porém, de simplórios repletos de maledicência.
Quando alguém do vulgo age contra outro, aponta-se para a agressividade tosca.
Quando, porém, o ato origina-se de personalidades festejadas encontra-se o prejuízo mais abjeto.
Fala-se aqui do preconceito racial.
Esta praga, que atormenta os grupos sociais, indica erros acumulados através de séculos.
Na leitura das aulas do professor Norberto Bobbio, proferidas em Torino, no Acadêmico de 19775/1976, encontram-se textos explicitados pelo mestre que produzem perplexidade.
Indicam o produto intelectual de uma época, mas, ao mesmo tempo, registram deformação moral de seus autores.
Eles não são qualquer um.
Ao contrário, autores festejados por acadêmicos e difundidos por toda a parte.
Figuras consideradas as maiores do pensamento europeu nos Séculos XVIII e XIX.
De quem se fala?
De duas figuras estrelares da cultural ocidental:
Montesquieu e Hegel.
Bobbio, em suas exposições, objeto de apurado estudo prévio, registra duas passagens dos autores.
Elas levam à perplexidade, a saber:
“ Não se pode acreditar que Deus, que é um ser muito sábio, possa ter posto alma, e sobretudo uma alma boa, em um corpo negro …É impossível para nós superarmos isto, se poderia começar a acreditar que nós mesmos não somos cristãos”
A barbaridade exposta conta com continuidade em outro autor célebre, G.W.F. Hegel.
Veja-se:
“De todas estas questões resulta que o que caracteriza a índole do negro é o desregramento. Esta sua condição não é suscetível de qualquer desenvolvimento ou educação: como são vistos hoje, assim sempre foram. Na imensa energia do arbítrio sensível que os domina, o momento moral não tem qualquer poder preciso. Quem deseja conhecer manifestações espantosas da natureza humana, pode encontra-las na África. “
A leitura, destas duas inacreditáveis citações, aponta para o olhar de alguns europeus para os demais povos.
Acham-se superiores.
Falam de cima para baixo.
É, pois, preciso cuidado quando se realizam críticas às nossas autoridades a partir da visão europeia.
Pode-se estar repetindo atitudes preconceituosas, tais como as originarias de dois afamados autores.
Tudo se pode perdoar dos gênios.
Jamais posições repletas de patético preconceito.
Devem estas falhas de caráter ser expostas, tal como fez Norberto Bobbio, para se evitar que tolices não se propaguem.
Os autores considerados geniais também erram.
E como.
Referências.
Bobbio, Norberto – La Teoria dele forme di governo nella Storia del pensiero politico – Anno Academico 1975-1976 – G. Giappichelli- Editore – Torino – 1976.
Hegel, G.W.F. – Lecciones sobre la Historia de la Filosofia – Fondo de Cultura Económico – Mexico – 1996.
Spirito dele leggi – Montesquieu – Utet – Torino – 1952.
Tradução dos textos citados a partir das aulas de Norberto Bobbio.