Os povos sofrem de ciclotimia.
Os latino-americanos exageram.
A partir de um espaço temporal tomado ao acaso, constata-se que os povos de fala ibérica, vão da euforia à profunda depressão.
Nas guerras da independência, de maneira especial na América espanhola, discursos grandiloqüentes foram dominantes.
As personagens do período imbuíram-se do pensamento liberal advindo da Revolução Francesa.
Procuraram introduzi-lo em uma sociedade em formação, onde as necessidades básicas mostravam-se alarmantes.
A rejeição mostrou-se inevitável.
Procuraram os libertadores a formação de repúblicas liberais.
Atingiram regimes autoritários e, o mais das vezes, totalitários.
Ditaduras dominadas por caudilhos primitivos.
Neste continente há muito boas intenções.
Estas ficam no caminho.
Vence a volúpia em amealhar, sem esforço e de forma rápida, dinheiro público em bolsos particulares.
Assim vegeta a América Latina.
Há menos de trinta anos, deu forte guinada a esquerda.
Grupos marxistas, muitas vezes apoiados por integrantes da Teologia da Libertação, formaram facções armadas.
Surgiram os tupamaros, montoneros e, no espaço de língua portuguesa, os múltiplos grupos, com as mais diversas denominações e bases doutrinárias.
Havia marxismo e socialismo real em muitas mentes.
O romantismo político imperava.
Os adversários destas correntes de pensamento agiram de forma dura e drástica.
Por toda a parte, aqueles foram vencidos ou exterminados.
Só restaram camisetas com o rosto de Che Guevarra.
Eram vendidas em shoppings de produtos importados.
Ironia das ironias.
Este episódio, contudo, registra com clareza a ciclotimia latino-americana.
Combateram a hegemonia estadunidense durante anos.
Morreram muitos. De todas as maneiras.
Agora, passivamente, o neoliberalismo lança-se sobre a economia.
Aplaudido pela maioria, sem qualquer sentido crítico.
A arte de governa, de hoje, lembra faixas lançadas em muitas fachadas residências:
Família vende tudo.
É novo ciclo histórico e econômico.
A soma de esforços de muitas gerações se encontra à venda.
Nada se pergunta à sociedade.
A sociedade se encontra apalermada.
Em graus diferentes, esta é a realidade latino-americana contemporânea.
Lamentável.
Já se pode lançar uma chamada na fachada dos palácios presidenciais:
Governantes vendem tudo.
As sociedades autóctones, no entanto, se manterão em suas lutas e na busca de objetivos sadios.
Na pobreza, mas com a dignidade advinda do inato sentimento de auto preservação.
Aguarda-se um novo ciclo no interior da ciclotimia perene desta pobre América.
Que seja melhor.
É a esperança.
Esta perene na América Latina.