Arquivos Mensais: novembro 2019


A ILHA DA GRANDE CASA DE LOUCOS

Venid, se amos locos todos juntos*

 

Conta o historiador Christopher Hill que, no Século XVII,  inúmeras pessoas, na Inglaterra, fingiam sofrer de alguma deficiência mental.

Tornara-se costume interná-las em um manicômio em Bedlam.

Apesar do uso da internação dos lunáticos em hospício, o número destes mostrava-se imenso.

Nas estradas e bosques do país, perambulavam pessoas que se punham a falar coisas extravagantes.

Previam o futuro.

Expunham os erros dos magistrados e dirigentes públicos.

Lembra ainda o historiador que, agindo como dementes, os bufões da Corte diziam aos soberanos verdades proibidas às pessoas comuns.

Agiam os bufões como verdadeiros conselheiros dos reis e rainhas.

Conclui o historiador que, quando os bufões foram afastados, os equívocos dos dirigentes tornaram-se maiores.

Não havia quem censurasse os equívocos.

Uma surpreendente afirmação expende o historiador inglês:

Muitos fingiam-se de loucos.

Assim podiam expor ideias políticas de oposição aos governantes.

Estas censuras, exposta por pessoas normais, seriam objeto de severas penas.

Dai os mais sagazes fingirem-se de loucos para livremente exporem, nas praças e nos templos, discursos proibidos aos considerados normais.

Assim, a demência, na Inglaterra do Século XVII, tornou-se em veículo político.

Criou espaço para novas concepções religiosas e, inclusive, governamentais.

Oportuno lembrar que todos estes episódios se verificaram como antecedentes da Gloriosa Revolução Inglesa.

Ridículo e escarnio, fazer papel de louco, foram considerados, naqueles tempos, dos melhores instrumentos para polemizar.

As constatações elaboradas pelo historiador conduzem, sem maior esforço, a uma comparação inevitável.

Estaremos, no Brasil, também utilizando a prática avoenga dos ingleses na ação política?

Ou seja, muitos se fazem de loucos para poder agir e expor as mais estranhas colocações.

Terá se tornando o Brasil, como a velha Inglaterra, em uma grande casa de loucos.

É possível.

Para aquilatar esta possibilidade, basta ler um jornal ou assistir um noticiário de televisão.

Os bufões de todas as espécies estão presentes.

Falam tolices sem qualquer censura.

Fazem-se de loucos.

Como diria o homem do Eclesiastes:

Não há nada de novo debaixo do sol.

O Brasil do Século XXI emita os ingleses do Setecentos.

Temos falsos loucos a toda prova.

 

 

Referencia.

Hill, Christopher – El mundo transtornado – Siglo XXI – Espanha – 1983

*W.Erbery in obra citada


COMO CONHECER UM POPULISTA

Yo ya no soy, yo soy un pueblo.*

 

 

Uma dificuldade para os cientistas políticos:

identificar com clareza um populista.

Todos sabem ser o populista um demagogo.

Com palavras, busca conquistar simpatizantes e solapar instituições.

Os populistas mostram-se endêmicos na América Latina.

No entanto, a partir deste Século XXI, tornaram-se presentes por toda a parte.

Onde existem instituições democráticas, eles se apresentam aos pleitos.

Com suas arengas, conquistam votos.

Depois, todos sabem o que acontece.

Agarram-se ao Poder.

Avançam por todos os espaços.

O tema – populismo – tornou-se recorrente na literatura especializada.

Colocou-se como objeto de análise em trabalhos acadêmicos.

Um autor mexicano, Enrique Krauze, em cuidadoso texto, se deu ao trabalho de arrolar o

Decálogo do Populismo.

Pela contemporaneidade e cuidado na elaboração, o mencionado Decálogo merece ser difundido.

É o que se faz, a seguir:

 

Decálogo do populismo.

1. O populismo exalta o líder carismático.

2. O populista usa e abusa da palavra: se apodera dela.

3. O populismo fabrica a verdade.

4. O populista, em sua variante latino americana, utiliza do modo discricionário os fundos públicos.

5. O populista, uma vez mais em sua variante latino americana, reparte diretamente a riqueza.

6. O populista promove o ódio de classes.

7. O populista mobiliza permanentemente os grupos sociais.

8. O populismo busca um “inimigo exterior”.

9. O populismo despreza a ordem legal. 

10.O populismo mina, domina e por último domestica ou cancela as instituições e liberdades democráticas.

 

Alterações, observações e acréscimos podem ser feitas às dez regras formuladas acima.

Certamente, porém, elas permitirão uma oportuna reflexão sobre o tema.

Ele está presente por toda a parte.

Não há sociedade imune à corrosão populista.

O Brasil não se encontra imune.

 

 

 

Referências.

Krauze, Enrique – El Pueblo soy yo – Debate – Mexico – 2018.

*Hugo Chávez