PEQUENA VENEZA


QUIÉN PONE EL CASCABEL AL GATO?*

 

 

Os analistas políticos  precipitam-se ao examinar a Venezuela.

Historiador de renome, auxiliados por expertos em América Latina, conclui sobre o país do Orinoco:

“Venezuela é um país muito mais complexo e original do que se permite supor, …”

A afirmação altamente aplicável à comunidade venezuelana.

Desde seus primórdios.

Os navegadores, Alonso Ojeda e Américo Vespúcio, chegaram a Paramaribo em 1496.

Encantaram-se com o grande número de palafitas existentes na região.

Moradias dos autóctones.

Deram-lhe o sugestivo nome de Venezuela:

Pequena Veneza.

No ano anterior,Cristóvão Colombo já aportara àquelas costas.

Duplos descobridores, portanto.

A primeira complexidade na História do país caribenho.

O território não mereceu interesse imediato dos espanhóis.

Ficou à margem dos grandes interesses do Reino.

Somente em 1528, Carlos V agiu.

Concedeu as terras ocidentais da Venezuela aos banqueiros alemães Welser.

Estes preocuparam-se apenas com a busca do Eldorado.

Nada de colonização.

A Venezuela, na época  dependia de Santo Domingo e, em seguida, de Santa Fé.

Demonstração do desinteresse dos ibéricos pelo espaço venezuelano.

Somente no Século XVI iniciou-se embrionária exploração agrícola.

A colheita de pérolas tornou-se ativa.

Corsários franceses, ingleses e a cobiça de holandeses causaram desconforto com suas escaramuças.

Em 1728, criou-se a Real Companhia Gupuzcoana de Caracas.

A plantação de cacau gerou surto de progresso.

A Venezuela tornou-se a primeira produtora mundial do fruto.

A agricultura de subsistência mantinha-se insuficiente.

Desprezível.

A colônia permanecia pobre.

Caracas impressionava pela sua cultura.

Os visitantes registravam o dinamismo da cidade.

A pobreza, no entanto,  a rodeava.

Humboldt, o sábio alemão, em visita, afirmou ser a cidade urbe ilustrada.

Aberta ao mundo.

Caracas, realmente, deu à América Latina figuras históricas de relevo.

Andrés Bello, o jurista, um caraquenho.

Bolívar, o libertador, formou-se na cidade.

Rico latifundiário viajou pela Europa.

Permaneceu grande tempo na Inglaterra.

O liberalismo inglês o influênciou.

O Libertador, no entanto, admirava governos centralizados.

Autoritários.

Flagrante incongruência.

A complexidade da política venezuelana – sempre presente em sua História – possui  traços desde os combates pela independência.

Duas personagens se digladiaram, desde logo.

Miranda, militar com passagem pelos exércitos espanhóis, e seu discípulo Bolívar.

A primeira vitória do Libertador.

Miranda colocado no ostracismo.

Batalhas extremamente ferozes pela independência.

A ordem: não capturar espanhóis.

Deviam ser mortos.

A determinação cumprida.

Todos os meios para atingi-la utilizados.

Bolívar deu armas aos escravos, por ele libertados.

Lançou-os contra os antigos senhores.

Aliou-se a caudilho temido pela coragem e violência, Páez.

Após a morte de Bolívar, em 1830,  Paez tornou-se presidente da Venezuela várias vezes.

Autodidata, mostrou-se duro caudilho.

Exigia, acima de tudo, disciplina à sociedade.

Consta que Bolívar morreu profundamente desiludido.

Teria, no momento derradeiro, afirmado:

La América es ingovernable …

El que sirve una revolucion ara el mar.”

A elite venezuelana concebeu, nos anos seguintes, república aristocrática.

Falsamente liberal.

Inteiramente desassociada de graves problemas sociais.

Uma grande farsa.

Zarzuela com mau enredo.

Hegemonia de liberais clássicos, conservadores e caudilhos.

Governantes com total ausência de legitimidade popular.

Eleições por via indireta, por fórmulas esdrúxulas.

Golpes militares.

Esta situação perdurou até 1958.

Neste ano partidos venezuelanos assinaram um Pacto.

Participaram, entre outros,  Copei, democrata cristão, União Republicana Democrática, confederações de trabalhadores, empresários, Juntas Patriotas.

Deixaram de assinar os sociais democráticos.

A este deram o nome de Ponto Fixo.

O grande artífice do Ponto Fixo: Romulo Betancourt.

Os pontos fundamentais do Pacto:

  • Defesa da constitucionalidade,

 

  • Direito de governar de conformidade com os resultados eleitorais,

 

  • Governo de unidade nacional, com programa comum mínimo.

     

Betancourt afirmou, quando da assinatura do Ponto Fixo:

“Só uma frente civil unida constituirá um obstáculo insuperável para uma experiência totalitária”.

Precisa a antevisão do autor do Pacto Ponto Fixo.

Após sua celebração, ocorreram eleições livres e democráticas na Venezuela.

Os mecanismos democráticos funcionaram.

O interior dos governos dizimado pela corrupção.

Dirigente integrante da elite intelectual afirmou amargamente:

O político está acima da política.

Com esta visão personalista, prosseguiu a caminhada do País.

Vieram eleições e golpes de Estado.

Sucederam-se governantes eleitos e ditadores.

Por mero registro, cita-se Carlos Andres Perez, Octavio Lipage, José Velasquez e Rafael Caldeira.

Carlos Andres Perez contou com dois mandatos.

No primeiro, conheceu a riqueza do petróleo.

Tudo correu bem.

O segundo mandato foi desastroso.

O preço do petróleo caiu internacionalmente.

Aconteceu o Caracaço, em 1982.

Revolta popular de grande violência.

O presidente encontra-se em Davos.

Ao retornar, correu perigo de vida.

As estradas, entre o aeroporto e o palácio,  tomadas por populares revoltados.

Perez saiu ileso.

Deu-se, com o correr dos anos, o inevitável.

Em futuro próximo, em eleições presidenciais diretas, elegeu-se Hugo Chaves.

Ligação direta povo e governante.

A elite venezuelana não aceitaram.

Pedro Carmona, presidente da Federação das Câmaras empresariais, politicamente despreparado, pratica golpe de Estado.

Brevíssimo governo: 24 horas.

Assumiu plenos poderes.

Interviu no Poder Judiciário.

Foi uma chanchada.

O sucedeu Diosodado Cabello.

Outras 24 horas de exercício do Governo.

Chaves, liberado da prisão, retorna ao cargo de presidente.

Começa a corrida ao bolivarianismo.

O socialismo do Século XXI.

Retorno aos ideias centrais do Libertador.

Bom recordar:

Bolívar sempre se mostrou autoritário.

Concebeu a presidência perpétua.

A instituição figura em Constituição por ele elaborada para a Bolívia.

Outros fatos são presentes dos contemporâneos.

Luta externa contra os Estados Unidos.

Combate interno contra a miséria endêmica.

Alterações constitucionais por muitos consideradas bizarras.

Chaves, carismático, morreu.

Seu sucessor, caminhoneiro sindicalista, não possui  carisma.

Mostra-se astuto.

Os acontecimentos, porém, evoluíram com grande velocidade.

A eterna luta voltou a explodir.

Difícil antever o futuro.

As milícias bolivarianas em conjunto com as Forças Armadas serão capazes de preservar Maduro no Poder?

É incógnita de difícil solução.

Entender a Venezuela é tarefa complexa demais para o observador a distância.

É aventura de destino incerto.

No presente, como no passado: conflito entre a massa desvalida e minoria economicamente emancipada.

Impossível prever, a breve prazo, o desfecho.

 

 

Referências.

*Dito popular in Dichos y proverbios – Diaz, José Luis Gonzalez – Edimat – Madrid – 2013

(QUEM PÕE O SINETE NO GATO?)

Polis – Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado – Editorial Verbo – Lisboa – 2000.

Williamson, Edwin – Historia de América Latina – Fondo de Cultura Económica- Mexico – 2013.

Chevalier, François – América Latina – Fondo de Cultura Económico – Mexico – 2005.

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