“A doxa é opinião, crença popular; é o que cre a gente comum …” *
A política pode ser analisada por múltiplos ângulos.
A partir de visões subjetivas até as grandiloquentes manifestações sociais.
Muitos dedicaram-se a refletir sobre os diversos carismas correntes no cenário político.
Outros buscaram as causas dos movimentos de massa.
Alguns refletiram sobre política e ética.
E muitos procuraram afastar da política qualquer conteúdo de valor.
Os tempos contemporâneos foram antevistos pelos debruçados sobre os escaninhos da semiótica.
Basta observar a linguagem política cotidiana e se captará esta verdade.
Neste cenário as grandes transformações.
Autor inglês – Mark Thompson – escreveu estimulante obra sobre o tema.
O subtítulo de seu livro já aponta para uma indagação fundamental:
“Que se passou com a linguagem da política?”
A pergunta aponta para a real mudança dos costumes políticos em toda a parte.
Inclusive entre nós.
Aproximemo-nos dos acontecimentos da última campanha eleitoral.
Resposta conclusiva será obtida.
No passado, os candidatos buscavam marqueteiros.
Estes elaboravam imagens e discursos.
Particularmente, discursos.
Cuidava-se das palavras.
Elaboravam-se textos cuidadosamente.
Mostrar pomposa erudição obtinha admiradores.
Este estilo fico para atrás.
Chegaram, em momento seguinte, os candidatos populistas.
Ofereciam o céu na terra.
Remoíam o passado e geravam ódios.
E agora?
Tudo mudou.
Após a revolução digital, o direto e simples surgiram.
Perderam-se as formas barrocas.
Ganhou a clareza.
Nada de frases intercaladas.
Sujeitos ocultos.
Verbos em diversos tempos.
Adjetivos escolhidos.
Advérbios precisos.
Vai-se direto ao assunto.
Escreve-se como se fala.
Alguns poderão afirmar que este é o novo populismo.
Pode ser.
Mas, análise isenta indicará as novas formas de comunicação como mais democráticas.
Ou mais populares.
As línguas evoluem.
Não nas academias literárias.
Mudam nas ruas e nas praças.
Caso contrário, estaríamos ainda falando o latim clássico.
Não teria surgido o latim vulgar.
Deste o galego e do galego o português.
A língua já não é a de Camões.
Fala-se a língua das pessoas comuns.
Elas falam e se entendem com perfeição.
Esta língua – poder-se-á dizer vulgar – atingiu a política.
Aqui e por toda a partee, ao que parece, leva a vitórias eleitorais.
Trata-se da democratização do linguajar político.
Nada de anormal.
Mero avanço para o popular.
Ou para onde se encontra a verdadeira soberania: no povo.
Ver neste fenômeno decadência é não entender as evoluções sociais.
Entre estas, o elemento essencial de um povo: a língua materna.
O Brasil vai se encontrando neste Século XXI.
Nele passará a se ouvir a verdadeira língua falada abaixo do Equador.
Desculpem os puristas a ousadia.
Com ouvidos de ouvir, capta-se o verdadeiro idioma pátrio.
A campanha eleitoral do último pleito demonstrou esta verdade.
Referências:
*Platão distinguia a episteme da doxa.
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A primeira seria o verdadeiro conhecimento.
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A doxa é inerente ao debate popular, opinião e crença populares.
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Daí o miolo da crítica de Platão à democracia.