São múltiplas as variáveis que incidem sobre a ação política.
Os acontecimentos econômicos.
Os costumes em mudança acelerada.
Os desejos individuais e coletivos.
E um sem número de outros fatores.
Neste cenário de infinitas situações, os estudiosos conceberam instituições.
Buscaram conferir espaços de solidez em campo movediço.
Atingiram muitas vezes seus objetivos.
Em momento dramático, quando os impulsos revolucionários levaram ao rompimento de bases sólidas antes consolidadas, explodiram novas figuras jurídicas, no campo da política.
Aí esta, presente em todos os povos, a representação popular.
Por ela, um determinado cidadão recebe de seus iguais poderes para agir com extensos limites.
É o mandato livre, segundo os autores que tratam do tema.
Sua formulação se deu nos contornos da Revolução Francesa.
Sua adoção e propagação foi plena.
Não encontrou contestação.
A boa doutrina e a melhor prática impõe o mandato livre, dizem os especialistas.
Grande falácia.
Hoje, nossos parlamentares – aqui e por toda a parte – são titulares de mandatos imperativos ocultos.
Recebem determinações de seus financiadores.
Cada deputado representa o interesse de pessoas ou grupos.
Jamais do povo como um todo.
Uns representam o agro negócio.
Outros a indústria em seus variados setores.
Muitos os bancos e o mercado financeiro.
Alguns os segmentos religiosos.
E assim infinitamente.
Só não possui representação o detentor da soberania: o povo.
O povo confere mandatos livres e, por passe de mágica ( ou de pecúnia) estes se tornam imperativos.
Vive-se, pois, com os atuais contornos da representação dita livre, uma grande mentira.
Aqui, uma constatação, na política, e em seus institutos, encontram ficções jurídicas aceitas por inércia.
O povo, no passado, deferiu a terceiros sua soberania e foi fraudada por mandatários inescrupulosos.
Examinem a composição de nossas Casas Legislativas e encontrarão representantes dos mais variados setores.
Sofrem de todas as formas, físicas e psicológicas.
Quando da chegada dos invasores europeus ao Brasil, lá nos idos de 1500, os povos autóctones viviam livremente suas existências.
O mesmo ocorria por todo o continente americano.
Do Alasca à Patagônia, com diferentes graus de evolução, se distribuíam diferentes formações.
Foram submetidos, cinicamente, à escravidão ou aniquilados sem qualquer traço de respeitabilidade pelo ser humano.
Na última onda colonial, até marxistas defendiam a necessidade de reduzir a escravos os povos dominados.
Era função do europeu educar.
Esta amarga onda de agressões contra outros povos, iniciada no Século XVI e retomada após a Primeira Guerra Mundial, causou traumatismo em todos os contingentes humanos submetidos à violência do colonizador.
O tema é sempre cinicamente tratado e muitos dele fogem deliberadamente.
Ou por vergonha ou por covardia.
Raros são os documentos descritivos dos costumes dos colonizadores em terras ocupadas.
Afasta-se do tema.
É melhor esquecer, dizem alguns.
Outros, por interesses circunstanciais, chegam até a conceber elogios aos colonizadores, como se deu com determinado sociólogo.
É raro um documento retilíneo de quem viveu em terras colonizadas.
Isabela Figueiredo sai da costumeira covardia em expor a verdade vivida.
Cadernos de memórias coloniais é obra que foge à visão edulcorada do colonialismo.
Expõe com tintas expressivas os sofrimentos impostos aos negros de Moçambique pelo português.
Tudo faziam baseados no catolicismo e no patriarcado.
O homem português tudo podia.
Era o macho dominador e predador.
Tomava as mulheres negras como objetos.
Estas, em sua pobreza, não contavam com capacidade de reação.
Era a mera submissão.
A autora, em um misto de perplexidade e admiração, toma o próprio pai como a figura do colonizador.
Não respeita nada.
Distribui violência das mais variadas formas.
É um colonizador.
A obra de Isabela Figueiredo, ao retratar a presença portuguesa em Moçambique, faz o leitor brasileiro retornar no tempo.
E, aí, entender o sofrimento de negros e autóctones com os atos dos colonizadores em terras brasileiras.
Não há como adocicar à verdade.
Basta a leitura desapaixonada de Caderno dememórias colônias para se compreender os sofrimentos impostos a negros e índios durante séculos.
Somos o produto da violência.
Esta nos tornou apáticos.
Os governantes, nestas terras, imaginam-se tutores da sociedade.
Fazem de seus habitantes o que querem.
Amesquinham a todos.
Submetem a todos.
Todo titular de uma parcela de Poder mostra-se um colonizador.
Lembram os europeus dos primeiros tempos.
Aqueles enraizaram em nossa sociedade a concepção de que o Poder a tudo pode.
Principalmente humilhar e submeter.
Olhe-se para o Brasil de hoje.
Captar-se-á os reflexos do colonialismo dos primeiros tempos.
Referências.
Isabela Figueiredo – Caderno de memórias coloniais – Todavia – São Paulo – 2018
Guido Liguori e PasqueleVoza – in Dicionário Gramsciano – Boitempo – 2017 – vide verbete: Colonialismo.