O que pode ocorrer, não é necessariamente o que ocorrerá.*
Em tempos de crise moral, é bom buscar refúgio no passado.
Quando estudiosos se debruçavam em examinar períodos da antiguidade greco-romana.
Entre estes autores, um era manuseado por jovens discentes das academias de Direito.
Trata-se de Fustel de Coulanges (1830-1889).
A obra mais conhecida deste historiador é a A Cidade Antiga.
Nela o autor estuda as instituições da Grécia e de Roma.
Coulanges era adepto do positivismo.
Este pensamento tinha como principal divulgador Auguste Conte, próximo de todos nós.
Muito influenciou quando da proclamação da República.
No século XIX, o positivismo somou inúmeros adeptos, especialmente entre os militares.
Formou o pensamento de inúmeras gerações de oficiais.
Estas deram origem a muitos movimentos armados.
Buscavam conferir alguma racionalidade à vida política nacional.
Romper traços marcantes do passado extrativista e escravagista de nossa sociedade.
Obtiveram avanços.
Basta recolher as conquistas dos tenentes de 30:
Saneamento das práticas eleitorais.
O voto feminino.
A busca da preservação das reservas minerais.
O incentivo à industrialização.
A própria Petrobrás é produto tardio das proclamas tenentistas.
Assim como a legislação trabalhista, hoje em processo de desmanche.
Cabe registrar:
Os tenentes, marcados pelo positivismo, tinham visão pouco edificante da democracia.
Aqui entra a obra de Fustel de Coulanges.
O autor é crítico do processo democrático.
Aponta com frieza:
“ A democracia não suprimiu a miséria; mas pelo contrário tornou-a mais sensível. A igualdade nos direitos políticos frisou mais flagrantemente ainda a desigualdade de condições.”
Avança Fustel.
Aponta que nenhuma autoridade elevou-se entre ricos e pobres, na velha Atenas democrática.
Este acontecimento gerou lutas sangrentas entre as duas classes.
Todos os benefícios – giza o autor – destinavam-se aos ricos.
Como só havia labor escravo, desprezava-se o trabalho.
No interior de sua exposição amarga, Fustel de Coulanges indica o remédio:
“ Atenas sabia muito bem que a democracia só podia sustentar-se pelo respeito das leis”.
Os elementos arrolados em A Cidade Antiga parecem presentes na contemporaneidade nacional.
Revogam-se direitos.
Não há trabalho.
A corrupção campeia.
A pobreza e a riqueza vivem em conflito.
Estes elementos conduziram, no passado à tirania.
O tirano, mediante discurso demagógico, empolga as massas.
A seguir, passa agir como único titular do poder.
Perde-se a liberdade e a dignidade.
Já não se veem verdadeiros governos, mas facções no poder.
A autoridade passa a ser exercida em proveito dos interesses e das ambições de grupais.
Prossegue a descrição de Fustel.
Agora analisa a questão em leque aberto:
A democracia, com os ricos no poder, tinha se tornado uma oligarquia violenta, mas a democracia dos pobres essa volveu-se em tirania.
Lições que vem do passado longínquo, mas perfeitamente aplicáveis ao momento político e social do País.
Há uma luta surda entre pobres e ricos nas grandes cidades.
O trabalho tornou-se escasso para os pobres e para os ricos enfadonho.
Os políticos agem com cinismo.
Os movimentos sociais – salvo exceções saudáveis – agem para criar tiranos em ambas as facções.
Observe-se os candidatos à presidência da República a despontarem para o pleito de 2018.
Falas e atos de futuros tiranos.
Oportuno fossem desligados, por algum tempo, os computadores.
Todos, por um momento, voltassem seus olhos para o passado.
A História é repositório de grandes lições.
Cabe recolhe-las.
Só os tolos pensam saber tudo.
No poder, em sua profunda arrogância, conduzem os povos à grandes desgraças.
Estamos a caminho.
É preciso romper a marcha da insensatez.
Um pouco de leitura e meditação fazem bem.
É só experimentar, enquanto há tempo.
Ler Fustel de Coulanges, bom começo.