Existe, no fundo das almas, um princípio inato de justiça e virtude … a esse princípio dá-se o nome de consciência. ***
Este mês de março, em seus primeiros dias, aponta data internacionalmente comemorada: o Dia da Mulher.
Os eventos oficiais, em homenagem à data, foram deploráveis.
Personalidades masculinas, com visão retrograda, expondo ideias avoengas.
Não é novidade.
A mulher, entre nós, ainda é, muitas vezes, tratada como ser de segunda categoria.
Uma profunda estupidez.
Estupidez que conduz a inaceitável ausência de mulheres na hierarquia superior da União.
Entre 186 governos examinados pela ONU, o Brasil se coloca, em ranking elaborado, em uma vergonhosa 167ª posição.*
Lamentável !
Especialmente, quando se recorda que, no Ocidente, a mulher esteve presente nos momentos mais significativos do pensamento.
Esta caminhada qualificada da mulher desponta, de maneira expressiva, em drama de Sófocles que reproduz enigmas da existência humana.
Entre eles, o Poder.
Antígona, uma mulher,demonstra a necessidade das pessoas se oporem a todo Poder absoluto.
Mais ainda.
A importância de, por um princípio, oferecer a própria vida.
Antígona se defronta com a tragédia de ver seu irmão, Polinices, morto por Creonte, em vingança pela tentativa de tomada do Poder.
Creonte fere a lei não escrita.
Proíbe o sepultamento de Polinices, como exige a tradição e os costumes.
Antígona, com suas próprias mãos, opondo-se a determinação do tirano,dá sepultura ao corpo do irmão.
Cumpriu a lei natural.
Não aceitou a imposição de um agressor das leis existentes, antes mesmo do surgimento da primeira criatura.
Antígona, por ter realizado um dever de consciência, é condenada por razões de Estado.
É encarcerada em uma caverna.
Morre a mingua de água e alimentos.
Preservou a dignidade pessoal.
Não se submeteu à tirania.
Expõe esta mulher à toda a humanidade – mulheres, homens e de qualquer gênero – a imprevisibilidade da vida.
E mais.
Proclama:
A vida só merece ser vivida quando se luta contra tiranos e suas ordens ilegítimas.
À consciência da Antígona repugna a injustiça.
Vai além Antígona.
Confere à intolerância a condição de preguiça intelectual e pobreza interior.
A intolerância afasta todo esforço de conhecer e entender o ponto de vista do outro.
Sublinha Antígona a supremacia dos valores sobre a lei dos homens.
Antígona é a presença perene do eterno e superior caráter da mulher:
Capaz de grandes esforços.
Preservador dos vínculos de núcleos sociais fundantes.
Antígona foi esquecida no dia 8 de março.
Creonte prossegue em sua ação perversa.
Fica registrado.