… tudo que é gerado se corrompe …
Averrois*
Quatrocentos anos antes de nossa Era, as preocupações externadas por Platão aplicam-se ao nosso cotidiano.
O filósofo buscava as causas que levam a cidade à enfermidade.
Como se sabe, a cidade grega, no período clássico, a chamada polis, indicava o próprio Estado.
Como todo Estado, a polis sofria com as artimanhas do jogo político.
A este tema dedicou-se o filósofo em sua obra mais citada e divulgada: Políteia, traduzida para o latim, a partir de 1482, em Florença, sob o título de Res Publica.
Muito antes dos tempos modernos, Platão identificou a origem primordial dos males da sociedade.
Afirmava o pensador que a pleonexia – o desejo de querer sempre mais, prevaricando sobre os demais e violando às leis – conduz a desenfreada busca de sucesso e de poder.
Nesta louca caminhada a única regra é a força.
Qualquer ilusória coesão social, neste caso, rompe-se.
Leva este estado doentio a uma constatação inevitável.
Surgem duas cidades, no interior da polis, inimigas entre si, identificadas como a cidade dos pobres e aquela dos ricos.
O confronto é inevitável.
A cidade torna-se enferma.
Só a cidade justa pode evitar esta situação desconfortável.
Como remédio para curar o mal da cidade enferma, Platão aponta os políticos (sic).
Em seguida, ele mesmo registra que estes são os cúmplices ou mesmo concausa da enfermidade.
Os políticos, segundo Sócrates, costumam ofertar banquetes, mas não se preocupam com a sabedoria e com a justiça.
Antes de agirem como médicos da cidade, os políticos, em último grau, são a causa dos males suportados pela cidade enferma.
Os políticos, no exercício do Poder, agem sempre de modo tirânico.
Para mudar a cidade, na busca de atingir uma boa cidade, é preciso primeiro mudar as pessoas.
Mais além.
Não permitir a confusão entre Poder e riqueza.
As lições de Platão aplicam-se com exatidão ao atual momento político nacional.
Confunde-se, diuturnamente, riqueza e Poder.
A riqueza, hoje disposta em várias áreas, dominou o jogo político, transformando os locais de debate de ideias em cassinos.
Nestes se colocam meramente interesses privados egoísticos.
Os rompimentos sociais surgidos em vários Estados federados apontam para uma polis enferma.
É nítida a divisão entre ricos e pobres.
São amargas as cenas registradas em Vitória, no Rio de Janeiro e em outras localidades.
Aterrorizante o interior dos presídios espalhados pelo território nacional.
Deplorável a imagem dos hospitais das múltiplas regiões geográficas.
Os políticos, com suas artimanhas, levaram o Estado à enfermidade.
Deveriam ser os médicos para salvar o doente.
Tornaram-se algozes.
Pouca esperança resta.
Entre nós, os vícios do Poder são muitos.
Desde Porto Seguro, lá em 1500.
Resta – a maneira de Platão – aguardar um governo de sábios.
Nos próximos quinhentos anos, quem sabe a purificação chegará.
Até lá, paciência.