Arquivos anuais: 2017


DIGNIDADE HUMANA VIOLADA

Tudo se desfez na atualidade.

Os valores morais lançados fora.

Nada importa.

Respeitabilidades construídas ao longo de uma longa existência não importam.

A honra pessoal de terceiros nada vale.

Pode ser impunimente delapidada.

Ainda porque a honra não é conceito que importa a muitos das novas gerações.

No passado, a honra de uma pessoa era patrimônio imaterial que compunha sua personalidade.

Hoje, pouco vale.

No consumismo sem limites, que invadiu as vidas públicas e privadas, pouco importa a dignidade da pessoa.

Violar imagens das pessoas tornou-se esporte nacional.

Consomem-se pessoas como se fossem velas.

Não fogem – lamentavelmente – destas regras os meios de comunicação, particularmente os televisivos.

Entre eles, parece existir um liame que liga as redações.

O  erro de uma é indistintamente seguido pelas demais.

É o erro coletivo.

Nada de análise.

De exame profundo.

Cabe expor qualquer informação, sem qualquer exame crítico.

Com plena ausência de conhecimento das situações jurídicas.

Nesta loucura coletiva, personagens que mantem vidas íntegras, no cenário público, são expostas  com outras de duvidosa moralidade, sem qualquer escrúpulo.

Tratadas da mesma maneira. Com os mesmos adjetivos e idênticas interjeições.

Não pode ser assim.

A milênios, aprendeu-se a necessidade de se separar o joio do trigo.

Aqui parece que velhas lições não importam.

No Brasil tudo é joio.

Não é bem assim.

Se análises isentas forem feitas, irão constatar que há muito bom trigo, inclusive na política, apesar das aparências em contrário.

Algumas redações deveriam ser mais cuidadosas, quando lidam com quem ainda tem honra a preservar, como nos velhos e bons tempos.

É bom lembrar:

… a liberdade é a marca do nosso nascimento, da nossa existência. O autocontrole é a medida de nossa maturidade.

 

 

 

 

Referências:

Martin Wolf – Financial Time, 8.2.2006 – pg. 13. In Cláudio Lembo. A Pessoa seus Direitos. Manole – Barueri – São Paulo – 2006.


PLENA AMARGURA

Ao término de mais um ano, olha-se ao redor.

A visão é de desespero.

Em pouco tempo, os brasileiros perderam todas as esperanças.

Entraram em um inferno.

Tudo foi desmantelado.

Imponentes discursos.

Nenhum respeito aos ouvintes.

Somos todos débeis mentais.

É o que pensam os detentores do Poder.

Desmontaram os maiores orgulhos nacionais.

A Petrobrás, produto da luta de gerações.

Ato de coragem de um estadista, Getúlio Vargas, foi aniquilada.

O pré sal, conquista da persistência de muitos, cedida a petroleiras internacionais.

O orgulho das conquistas sociais desbaratado.

Perdemos tudo.

Os valores democráticos e seus institutos.

A confiança no amanhã.

O respeito ao passado e aos símbolos, que um dia existiram.

Hoje só o mesquinho sobrevive.

Nada permaneceu intocado.

Violentaram-se valores, princípios, tradições e as instituições.

Restam tolos falando imbecilidades.

Ninguém pensa no Brasil.

Em seu povo.

Na miséria que grassa por todas as partes.

O que aconteceu?

Uma sociedade sem horizonte.

Exausta.

A caminho da plena dominação por terceiros.

Já não importa ser brasileiro.

Ao contrário, é peso insuportável.

Perdeu-se o orgulho nacional.

A eterna alegria transformou-se em pesadelo.

Há esperança?

Tênues esperanças.

Os abastados fogem para Miami e Lisboa.

Os pobres se mantém heroicamente.

Os miseráveis – aos milhares – ocupam praças e baixo de viadutos.

O moral nacional não vale um vintém.

Pobre Brasil.

Um dia foi o país do futuro.

Hoje dilapidou o passado e nada espera do futuro.

Canibalizaram o Brasil.

 


CONVITE

Fracasso.

É o sentimento de quem anda pelas ruas do centro histórico de São Paulo.

A miséria invade a cada desvão.

Decadência e a miséria opressivas.

Pessoas andrajosas por todas as partes.

Pedem esmolas de maneira desumana.

Um pedaço de alimento. Qualquer alimento.

A droga barata impera.

Sequer de longe a presença das autoridades.

Os serviços sociais desapareceram.

Nenhum assistente social em toda área central.

Só desespero. Ruina humana.

Onde estarão as autoridades?

Em seus belos palácios.

Nenhuma sequer se dá ao trabalho de ver, com seus próprios olhos, a dramaticidade da situação.

São Paulo é uma tragédia.

Depois de seu orgulhoso passado, tornou-se no presente o retrato acabado do próprio Brasil.

Uma miséria só.

Todas as autoridades, em seus artefatos eletrônicos, parecem ativas.

Não passam de um amontoado de cínicos.

Abutres devorando uma sociedade exangue.

Todos silenciam. Os meios de comunicação. As igrejas. As ongs. Os políticos.

Uma sociedade, que não reage perante o inominado, fenece.

A miséria calou as consciências.

É o apocalipse. Nada é ouvido, a respeito.

Perdeu-se toda a possibilidade de reagir.

O individualismo mais perverso invadiu nossa sociedade.

Esta enferma. Sem futuro.

Resta forças para um convite:

Prefeito, governador ou presidente da República, sem aparatos, corram as ruas do centro de São Paulo.

Só assim constatarão o grau de indigência existente.


ÍNDICES DE DECADÊNCIA

A decadência de uma sociedade pode ser medida de diversas maneiras.

A econômica pelos índices emitidos diariamente pelo mercado.

A pauperização do povo por intermédio dos números de desempregados.

As favelas espalhadas por todos os cantos das cidades.

A saúde pelo acesso ao Sistema de Saúde quase sempre em colapso.

Há, no entanto, uma maneira diversa de se captar o grau de indigência que atinge um povo e seus integrantes.

Talvez, seja atípica.

Quem sabe lúgubre.

No entanto, extremamente nítida em captar o empobrecimento econômico e moral de um povo.

Este índice – estarrecedor – é a situação em que se encontram os cemitérios da Capital de São Paulo.

Todos os povos reverenciam seus antepassados, após a morte.

Preservam as tumbas que, no passado, recolhiam os corpos sem vida.

É uma tradição de todas as sociedades.

No Ocidente, alguns campos santos tornaram-se monumentos civilizatórios, com suas esculturas e registros históricos.

Os costumes se alteraram.

Chegou a cremação e os corpos já não recebem a terra como último acontecimento de uma existência.

Compreende-se.

Mas, preservar o passado das nossas necrópoles é uma exigência da moral e da História.

O lastimável descaso das autoridades municipais com os cemitérios históricos – Consolação, Araçá, São Paulo e os outros ainda – mostra a indigência moral a que está submetida a população.

Violam-se sepulturas.

Rompem-se esculturas.

Roubam-se peças ornamentais.

A imundícia ocupa o entorno das jazidas.

Lixo acumulado nas quadras.

Enfim, uma dramática exposição da indigência civilizatória imposta à sociedade e aos antepassados.

Aventureiros transformaram-se em falsos administradores.

É a falência de uma sociedade.

Esta decadência pode ser medida pela mais extravagante das formas:

O lamentável estado das necrópoles de São Paulo.

Um constrangimento elaborar este registro.

Um dia, em outros tempos,  os antepassados eram venerados.

A História e os que a edificaram já não valem nada.

Sociedade sem História não tem futuro.


MERCADO DE CONSCIÊNCIAS

Na ciclotimia própria da política, um novo modismo surge no noticiário.

O ingresso, às claras, do “mercado” de maneira direta no jogo político.

Empresários criam partidos.

Personalidades mostram-se propensas a incentivar a concretização de fundos de financiamento eleitoral.

Querem investir (sic) em futuros representantes do povo.

Ou seja, os representantes do povo serão representantes tão e exclusivamente do capital.

Isto é, dos financiadores de campanhas.

O povo que se lixe.

Alguém poderá argumentar que será melhor.

Não se darão os financiamentos ocultos, tais como se constata nas ações penais em curso no Rio de Janeiro e Curitiba.

A compra de consciências será a céu aberto.

Nada de conventilhos.

Nada de contas secretas.

Tudo arejado e confortável, dirá o falso moralista.

Na verdade, estamos longe da política partidária imaginada em outras épocas.

Facções em luta por ideais.

Pensamentos definidos:

Direita,Esquerda e Centro.

Todos, dentro em breve, só terão um símbolo: o cifrão, ou mais precisamente este: $.

Oportuno que todos os segmentos sociais ingressassem na arena política.

Com paridade de armas, porém.

Parece não ser este o futuro.

Preocupa.

No passado, um presidente já disse:

“ Nosso governo está desde alguns anos sobre o controle dos chefes de grandes sociedades anônimas ligadas a interesses particulares”.

 prosseguia o mesmo presidente,

“… (isto)tem efeitos de grande alcance na existência de qualquer habitante, pois impõe situações injustas …”.*

 

Este presidente dirigiu a mais pujante sociedade do Ocidente.

Conheceu por dentro a dominação do capital.

O Brasil, só agora, está vendo as entranhas do mau uso do dinheiro em campanhas.

Verá, no futuro, a legalização da aquisição de consciências no novo mercado: o da política.

Uma lástima.

 

 

Referências:

*Presidente Woodrow Wilson dos Estados Unidos in Luigi Ferrajoli – Principia iuris – Editorial Trotta – Madrid – 2016.


PELA SUPRESSÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS

 

Se confiássemos ao diabo a organização da vida pública, ele lograria conceber algo mais engenhoso..•

 

 

Os acontecimentos são vertiginosos.

Todos os dias novos fatos.

Uns, piores que os outros.

Todos lamentáveis.

Neste turbilhão de más notícias, ninguém pensa.

Ninguém se debruça sobre o panorama exposto.

Apenas, sobrevive-se.

Todos os dias, no entanto, uma imagem avança sobre os vídeos.

Expõe obviedades – todas iguais -, elas são o produto das emissões televisivas patrocinadas pelos partidos.

Exatamente isto.

Os partidos invadem, quase que diariamente nosso cotidiano.

Para que?

Para nada. Apenas falsas promessas.

No interior desta imensa pasmaceira – e roubalheira – manufaturada pelos partidos surge a edição de um pequeno livro.

Editado, originariamente, na França no século passado e agora reeditado em Portugal, com edição brasileira.

É obra perturbadora.

Trata particularmente dos partidos políticos.

Aponta para a contrariedade de grandes personalidades por estas agremiações parciais.

Demonstra que os partidos só aconteceram, com êxito, na Inglaterra, pois lá se apresentavam como clubes aristocráticos.

No continente europeu, os partidos sempre foram demonizados.

Na França, a Revolução de 1789 marginalizou os partidos.

Adotou inicialmente a Rousseau.

Com o Terror, surgem os jacobinos, com suas violências, e deram origem aos girondinos.

Aí o embrião do sistema partidário francês e, a partir de então, os conflitos se eternizaram.

Esta tese é defendida, com ardor, por Simone Weil (1909-1943), militante política, que escreveu, entre outras, uma obra provocadora, a saber:

 

“Nota sobre a supressão geral dos partidos políticos”

 

Leitura indispensável para os interessados em temas controvertidos e da atualidade, apesar da obra ser dos anos 40.

Será que a presença dos partidos não torna insuportável a vida cívica da cidadania?

Ou ao contrário, a existência dos partidos permite a  circulação de ideias e espaços de liberdade?

São perguntas oportunas, a partir da leitura da pequena obra de Simone Weil.

Cada um responderá  à sua vontade.

 

 

Referência

 

Weil, Simone – pela Supressão dos partidos políticos – Editora âyiné – Belo Horizonte – 2016

Nota sobre a supressão geral dos partidos políticos

Título da edição portuguesa – Antigona – Lisboa – 2017

Note sur la supression a génerale des partis politiques  – Título da edição francesa –

* frase de Simone Weil