Respeitabilidades construídas ao longo de uma longa existência não importam.
A honra pessoal de terceiros nada vale.
Pode ser impunimente delapidada.
Ainda porque a honra não é conceito que importa a muitos das novas gerações.
No passado, a honra de uma pessoa era patrimônio imaterial que compunha sua personalidade.
Hoje, pouco vale.
No consumismo sem limites, que invadiu as vidas públicas e privadas, pouco importa a dignidade da pessoa.
Violar imagens das pessoas tornou-se esporte nacional.
Consomem-se pessoas como se fossem velas.
Não fogem – lamentavelmente – destas regras os meios de comunicação, particularmente os televisivos.
Entre eles, parece existir um liame que liga as redações.
O erro de uma é indistintamente seguido pelas demais.
É o erro coletivo.
Nada de análise.
De exame profundo.
Cabe expor qualquer informação, sem qualquer exame crítico.
Com plena ausência de conhecimento das situações jurídicas.
Nesta loucura coletiva, personagens que mantem vidas íntegras, no cenário público, são expostas com outras de duvidosa moralidade, sem qualquer escrúpulo.
Tratadas da mesma maneira. Com os mesmos adjetivos e idênticas interjeições.
Não pode ser assim.
A milênios, aprendeu-se a necessidade de se separar o joio do trigo.
Aqui parece que velhas lições não importam.
No Brasil tudo é joio.
Não é bem assim.
Se análises isentas forem feitas, irão constatar que há muito bom trigo, inclusive na política, apesar das aparências em contrário.
Algumas redações deveriam ser mais cuidadosas, quando lidam com quem ainda tem honra a preservar, como nos velhos e bons tempos.
É bom lembrar:
… a liberdade é a marca do nosso nascimento, da nossa existência. O autocontrole é a medida de nossa maturidade.
Referências:
Martin Wolf – Financial Time, 8.2.2006 – pg. 13. In Cláudio Lembo. A Pessoa seus Direitos. Manole – Barueri – São Paulo – 2006.
A decadência de uma sociedade pode ser medida de diversas maneiras.
A econômica pelos índices emitidos diariamente pelo mercado.
A pauperização do povo por intermédio dos números de desempregados.
As favelas espalhadas por todos os cantos das cidades.
A saúde pelo acesso ao Sistema de Saúde quase sempre em colapso.
Há, no entanto, uma maneira diversa de se captar o grau de indigência que atinge um povo e seus integrantes.
Talvez, seja atípica.
Quem sabe lúgubre.
No entanto, extremamente nítida em captar o empobrecimento econômico e moral de um povo.
Este índice – estarrecedor – é a situação em que se encontram os cemitérios da Capital de São Paulo.
Todos os povos reverenciam seus antepassados, após a morte.
Preservam as tumbas que, no passado, recolhiam os corpos sem vida.
É uma tradição de todas as sociedades.
No Ocidente, alguns campos santos tornaram-se monumentos civilizatórios, com suas esculturas e registros históricos.
Os costumes se alteraram.
Chegou a cremação e os corpos já não recebem a terra como último acontecimento de uma existência.
Compreende-se.
Mas, preservar o passado das nossas necrópoles é uma exigência da moral e da História.
O lastimável descaso das autoridades municipais com os cemitérios históricos – Consolação, Araçá, São Paulo e os outros ainda – mostra a indigência moral a que está submetida a população.
Violam-se sepulturas.
Rompem-se esculturas.
Roubam-se peças ornamentais.
A imundícia ocupa o entorno das jazidas.
Lixo acumulado nas quadras.
Enfim, uma dramática exposição da indigência civilizatória imposta à sociedade e aos antepassados.
Aventureiros transformaram-se em falsos administradores.
É a falência de uma sociedade.
Esta decadência pode ser medida pela mais extravagante das formas:
O lamentável estado das necrópoles de São Paulo.
Um constrangimento elaborar este registro.
Um dia, em outros tempos, os antepassados eram venerados.
A História e os que a edificaram já não valem nada.