FORMAS POLÍTICAS SUPERADAS | CEPES
A eleição deste 2 de outubro apontou uma inusitada presença de votos nulos e brancos. Registrou uma grande abstenção.
Pode-se concluir, em um primeiro olhar, que os pleitos tornaram-se costumeiros.
Já não são uma novidade. Não provocam, como antes, vibração cívica.
Esta constatação, porém, deve ser examinada em espectro maior.
Na verdade, a política perdeu sua sacralidade. Tornou-se coisa rotineira. Um vulgar reality show.
Pior. Passou a ser considerada atividade para pessoas desocupadas.
Esta é a impressão do cidadão mediano, aquele que trabalha com afinco e redobrado esforço.
Alguns fatores levaram a atual situação.
O mais remoto é a presença da televisão no cenário político.
Este veículo de comunicação invadiu o interior dos locais clássicos da ação política.
Está presente nos gabinetes do Executivo.
Devassa o Parlamento.
No passado, os temas políticos eram tratados de em gabinetes exclusivos.
As informações das decisões eram transmitidas após serem filtradas pela imprensa.
A televisão escancarou os plenários de todos os parlamentos. Abriu as portas dos espaços exclusivos.
Agora, chegou a internet.
Transformou a ação política objeto de censura de qualquer cidadão.
E mais.
As críticas tornaram-se amargas e acachapantes.
Os institutos de pesquisa, por seu turno, retiraram dos políticos toda a espontaneidade.
Eles agem de acordo com as pesquisas de opinião.
Já não possuem ideias próprias.
Falam de conformidade com as ondas da opinião pública.
Se tanto não bastasse para descaracterizar a personalidade dos que se dedicam à política, apareceram os marqueteiros.
Geram utopias e produzem fantasias.
Da soma de todos estes fatores, conclui-se, sem maiores elucubrações:
Já não se formam estadistas e administradores.
Todos os agentes políticos não passam de apresentadores de opiniões pré-fabricadas e alheias.
Nada é natural. Espontâneo.
Não bastará – em uma mera reforma política de natureza legal – simplesmente reduzir o número de partidos.
Trata-se de ato inadiável. Mas não suficiente.
É necessário rever a função dos parlamentos.
Estes foram marginalizados pelas novas formas de comunicação social.
A realidade concreta aproxima-se de uma grande ágora grega.
Assim indicam os novos veículos, a saber, tv e internet.
Todos participam. Todos têm voz.
Já não aceitam passivamente a antiquada representação popular. Está superada.
Agora, todos são participantes.
O parlamento é lugar de debates singulares regulados.
A sociedade está auto-regulamentado os debates coletivos.
Não aceitará, em breve, as velhas noções oriundas das revoluções inglesa, americana e francesa.
Exigirá que sua vontade seja diretamente colhida e observada pelos Poderes clássicos.
O que os gênios de Montesquieu, Rousseau e Sieyes construíram no passado encontra-se superado.
Os tempos contemporâneos estão a exigir novos pensadores capazes de captar os anseios que surgem de uma sociedade urbana e massificada.
Permanecer estático a esperar que tudo vai melhorar é um equívoco.
O rádio, a televisão e a internet chegaram para ficar.
Alteraram as formas clássicas de fazer política.
Levaram à participação coletiva.
É caminho sem volta.
Permanecer estático conduzirá a rupturas graves.
É bom entender os novos tempos, antes que as velhas formas violentas de ação política retornem ao cenário nacional.
Ainda é tempo de salvar o que resta da paz social.