ALMA DA TOGA | CEPES
Cláudio Lembo
É alvissareiro constatar que, imerso em ampla crise, o Brasil possa manter suas instituições em pleno funcionamento.
Ruptura nas atividades do Executivo. Colapso nos trabalhos legislativos. Ampla revisão de comportamentos morais.
Ainda assim, a sociedade, com grande fadiga, prossegue sua faina diária e seu trabalho constante em todos os setores.
Não se enumerou acima o Poder Judiciário.
Ele, porém, não se encontra isento de análise. Ao contrário, em uma democracia, nenhuma instituição se coloca fora do campo da crítica.
Muitas vezes alguns magistrados – com visão tacanha – se colocam acima dos demais cidadãos. Não admitem qualquer observação.
Equivocam-se.
Não há mais espaços vazios entre as diversas instituições republicanas. Todas, sem exceção, se encontram aptas a receber ponderações.
Nas últimas semanas, quando objeto de acompanhamento, por seus atos e atitudes, magistrados de Tribunais pediram licenças remuneradas.
Fácil.
Há críticas. O magistrado se recolhe, como se fosse um avestruz, aquele que esconde a cabeça e deixa o resto do corpo à mostra, quando sente perigo.
Apesar do inusitado, não se constatou nenhuma reação do Conselho Nacional de Justiça. Silêncio absoluto. Aparência de normalidade.
Este espirito de classe não é salutar.
Como servidores qualificados da cidadania, os juízes precisam conferir exemplo de comportamento.
Quando a magistratura enfraquece moralmente, corre risco a própria democracia. Os juízes são o último refúgio do cidadão.
Resolvem conflitos e com a evolução dos controles de constitucionalidade adquiriram a condição de guardiões das instituições.
Os juízes precisam entender que, no estado democrático, a Justiça é independente da política e longe do compadrio.
A eles, juízes, cabe, quando das violações morais, restabelecer a indispensável moralidade púbica.
Por isto, o juiz deve ser sereno e imparcial como o cientista em seu gabinete de trabalho, ensina Piero Calamandrei.
Deve o juiz se afastar das paixões políticas próprias do comum dos mortais.
Ele, para ser bom magistrado, deve manter distâncias dos conflitos partidários. Resolve-los, quando formalmente exigidos.
O juiz partidário torna-se faccioso. Perde em consequência a necessária imparcialidade.
Deixa de ser juiz, transforma-se em contraventor de valores cívicos.
A decisão não vem só da lei. Ela emerge da consciência do juiz.
Dai a necessidade de isenção e afastamento dos tormentos do jogo político e dos interesses empresariais.
Compreende-se a humanidade dos juízes, daí a necessidade de alertá-los para os eventuais deslizes em tão nobre carreira.
Vive-se em liberdade e a liberdade confere a todos o sentimento de responsabilidade.
Maior responsabilidade para os detentores da toga.
Não podem apenas contar com as vestimentas talares. Precisam ter alma acima das paixões para serem verdadeiros magistrados.