Independente dos espaços geográficos e das múltiplas épocas, os acontecimentos políticos possuem contornos comuns.
Eles correspondem a produtos diretos da atividade humana e esta é reflexo da perene necessidade de confrontar e buscar o poder por parte das pessoas.
Em todos os cenários da vida, quer doméstica ou pública, a vontade de mando e de subordinar está sempre presente.
É da natureza humana. Dai a dificuldade de governar. Conviver com o conflito permanente. Com a instabilidade dos humores pessoais e coletivos.
O governante, dentro desta perspectiva, não pode titubear. Errar continuamente. Ter olhos apenas para um determinado segmento da sociedade.
Ainda, se agir com fragilidade e praticar má escolha de subordinados, o governante corre o risco de se tornar impopular.
A primeira consequência será a geração de um mal estar coletivo. Este sintoma tende a crescer e, em condições terminais, conduz à insubordinação coletiva.
Só o governante ingênuo ou psicologicamente mal aparelhado não capta estes influxos que vem da sociedade.
Quando isto ocorre, as inevitáveis crises explodem e se transformam em dramáticos acontecimentos políticos.
Nestes, em razão dos humores acumulados, explode a irracionalidade e surgem figuras de opereta transmudadas em salvadores.
Os salvadores de ocasião – porque reproduzem o ódio coletivo – falam estultices e, ainda, assim são aplaudidos.
É lastimável o conteúdo das arengas daqueles que apenas desejam acusar e abrir um espaço de exposição na arena pública.
Sempre foi assim. Em todos os tempos. Não é diferente, aqui nos trópicos, nos dias contemporâneos.
Acusa-se sem provas. Avança-se sobre a honra alheia. Criam-se falsos argumentos. E tudo vale. Porque os expositores falam o que deseja a imensa maioria.
É lastimável. Mas, real. Os julgamentos realizados sobre emoção levam a veredictos viciados. Julgadores e público encontram-se obliterados por meias verdades expostas todos os dias e consumidas sem qualquer reflexão.
Ainda mais. Os governantes, quando inexperientes ou arrogantes, perdem capacidade de interlocução. Sem se aperceberem, caminham para o cadafalso.
Este – o cadafalso – pode ser um machado afiado, como no caso de Carlos I da Inglaterra, ou a ágil guilhotina, com que foi agraciado o pescoço de Luiz XVI da França.
Nos tempos contemporâneos, o cadafalso é menos agressivo, mas permanece doloroso. Hoje, o ferimento não físico.
Tornou-se mais sofisticado. Transformou-se em um tormento psicológico. Dia e noite acusações, com ou sem fundamento.
Martela-se na mesma tecla à exaustão. Até que em determinado dia se concretiza o juízo político.
O resultado é antecipadamente conhecido.
A morte política do denunciado. Em todos os episódios históricos, nos tempos moderno ou contemporâneo, análogos ao ora vivido no Brasil, sempre se agiu da mesma maneira.
Cria-se o ódio coletivo. Aniquila-se o governante. Pouco importa a legitimidade agredida. A violência contra as instituições. Os votos populares marginalizados.
A vitória imediata é dos que souberam esgrimir com palavras sonoras e falaciosos argumentos verberados pelos meios de comunicação.
Serão vitoriosos. Esquecem, porém, que o processo histórico é continuo. Um vir-a-ser constante.
No futuro próximo ou lá no remoto, os fatos e acontecimentos serão reexaminados. E aí, sem emoções fabricadas, a realidade surgirá.
O julgamento da História – porque possui a perspectiva do tempo – é sempre penoso para os vitoriosos de ontem.
É só tomar o triunfalismo dos nazistas em seus dias de esplendor e o julgamento de suas práticas nos dias contemporâneos.
O que pareceu grandioso não passou de uma atitude repleta de ódio e preconceitos. São lições e registros da história.
Em poucos dias, chegar-se-á ao final de mais uma grande armação parlamentar. O seu desfecho já é conhecido.
Os pósteros revisarão os acontecimentos. O resultado, que só será conhecido no futuro, não será favorável a muitos participantes da atual geração.
Pobre terra que não se encontra. Sempre em busca do Eldorado. Sempre afogada no lodaçal dos egoísmos predatórios.