UM DOMINGO INESQUECÍVEL | CEPES
Uma profunda melancolia invade a consciência dos que pensam.
Será que alguém pensa nestas terras tropicais? É possível que sim, mas são poucos.
Passou-se uma semana após a sessão da Câmara Federal em que mais um impeachment foi votado.
Com alvoroço mediático e muita extravagancia. Se algo foi salvo, foi o princípio da transparência.
Cada ato e cada gesto dos parlamentares mereceu plena captação pela televisão.
A transparência se constitui no mais importante elemento da politização da sociedade.
Não foram escribas do dia seguinte que registraram – de acordo com suas visões – os acontecimentos.
Cada cidadão, nos mais diferentes locais do País, recolheram suas impressões e fizeram seus julgamentos.
Estes julgamentos mostram, de acordo com as mais diversas opiniões, um desalento com a representação popular.
O deputado, para se ver notado, pratica os mais incríveis atos, em desacordo com os elementares costumes sociais.
Esquece o parlamentar a sua importância como representante da nação e se torna um mero apresentador de mesmices.
Imagens chulas ou frases com alto teor de agressividade foram ouvidas a toda voz.
Em alguns episódios, incisos do artigo 5a da Constituição foram desprezados, sem qualquer pudor.
Uma lamentável demonstração de mau gosto assistiram os brasileiros no domingo, dia 17 de abril.
É dia para não esquecer. Na História pátria, há passagens amargas e pouco recomendáveis.
Eram, porém, expostas por interessados e, desta forma, a realidade se transforma conforme o expositor.
Foi, assim, na queda de Getúlio Vargas. Na renúncia de Jânio Quadros. No idos de 1964. No afastamento de Collor.
Todo o cenário contava com uns poucos espectadores. Agora, não. Toda a sociedade assistiu a barbárie assembleísta.
Foi lição. Amarga é verdade. Mas exemplar. Toda lição produz efeitos. A captação do real e em seguida a reflexão é próprio do processo mental.
Se a nacionalidade não recolher elementos para uma alteração dos costumes políticos, a gangrena tomará o corpo social.
Será melancólico viver em uma sociedade que não altera, após seus fracassos, o rumo de seus atos.
Captou-se em sua plenitude a forma de atuar dos parlamentares federais. Individualistas ao extremo.
Todos – com raras exceções – são individualistas ao extremo. Pouco se importam com o coletivo.
Só se preocupam com seu entorno. Não possuem visão da importância da missão exigida pelo mandato representativo.
Claro que o parlamentar é produto do eleitorado. E aqui se coloca a angústia maior.
Ao votar, o cidadão pensa nos interesses coletivos ou apenas lança os olhos sobre sua própria aldeia?
Como poderá acontecer uma qualificação do eleitorado ativo? Esta é a grande indagação.
Fomos do conservadorismo dos partidos anteriores a 1988 para avançar para o falso progressismo dos anos democráticos.
Não melhoramos. Ou apenas colocamos a público nossa fragilidade cívica.
Os meios de comunicação – particularmente os de natureza pública – têm grande responsabilidade na melhoria de nossa educação democrática.
A televisão pública – Tv Câmara, Tv Senado e Tv Justiça – mostra a importância da captação direta dos trabalhos das instituições do Estado.
A depressão coletiva com as visões do domingo, 17 de abril, será dissolvida com o tempo.
Espera-se que a catarse conduza a patamares mais elevados da representação política.
Há um único responsável para esta melhoria. O eleitor com seu título.
Em novembro acontecerá o pleito municipal, prefeitos e vereadores serão escolhidos livremente.
Só o eleitor poderá alterar a visão apocalipítica oriunda da votação do impedimento presidencial.
Resta a esperança.