É bom que aconteça. Já era hora de se pensar – ao menos um pouco – em moralidade.
Os negócios públicos sempre foram considerados interesses privados na vida administrativa brasileira.
A moralidade, princípio esculpido no artigo 37 da Constituição, nunca foi forte nestes trópicos. Abaixo da linha do equador, tudo foi permitido.
Positiva, portanto, a atual onda moralista que tomou a sociedade. Uma coletividade acostumada a pecados e pecadilhos parece ter acordado.
Não se pode viver o tempo todo infringindo normas legais. Dá confusão.
Um dia, diz o ditado popular, a casa cai. As empreiteiras nunca se portaram baseadas em códigos éticos.
Muito ao contrário. Avançaram a todo o tempo sobre o erário público. Exageraram nos últimos anos.
Encontraram terreno fértil.
Lambuzaram-se. Não tiveram limites. Foram glutões insaciáveis da coisa pública.
Conviveram com um Partido concebido nas sacristias. Abençoados por curas e seus superiores. Só seus membros eram puros. Mereceram favores eclesiásticos. Bênçãos.
Hoje amaldiçoados. Pecadores públicos sem perdão. Em sermões em basílicas, são admoestados por altos dignitários.
Pena. Passado recente rapidamente esquecido. A memória é curta. Particularmente, quando se peca contra o bem comum.
O atual cenário político – com sempre a política – se encontra turvo pela hipocrisia reinante. O cinismo atordoante.
Todos são pecadores. Só alguns condenados ao inferno. Os outros, integrantes da mesmo clã de corruptos,escapam.
Aí a imoralidade do tempo presente. A balança da justiça só tem um prato. Só alguns são julgados. Os outros posam de heróis.
Restam lições, contudo. Aqueles que vieram do movimento operário – talvez em razão das bênçãos – pensaram, um dia, que haviam sido recebidos no paraíso.
Ledo engano. A sociedade tem castas claras e nítidas. Ninguém rompe impunimente os limites de sua categoria.
Se o faz, é prontamente remetido as suas origens. Cada um em seu quintal. Esta é regra de todas as coletividades.
A presidência da República dá ao ingênuo falsa impressão de poder e igualdade. Findo o mandato, o titular é remetido a sua origem.
Alguns ficam deslumbrados com o poder. Esquecem os limites de seus cargos. Acham-se verdadeiros júpiteres.
Não passam, contudo, de serviçais transitórios de segmentos historicamente definidos. Violaram barreiras, voltam a situação de origem.
A crise atual produz lições nítidas. Não se rompe impunimente com a própria classe. Isto não é perdoado, lá fora e aqui.
Aqui, ainda pior, a carga atávica de nosso passado. A senzala e a casa grande permanecem intactas.
Só os tolos não entendem esta verdade. Algumas lideranças políticas a esqueceram.
Não acrescentaram valores à democracia brasileira. Ao contrário, denegriram seus iguais.
Pena que os autores desta tragédia se omitem. Não vem publicamente pedir perdão pelo pecado cometido.
Agora, cinicamente, o tema não é com eles.Não se confessam.
Fogem à realidade.