Arquivos Mensais: setembro 2014


A FARSA PARTIDÁRIA

A espera do dia 5 de outubro vai se tornando enfadonha. Ninguém agüenta mais. O cansaço é generalizado. As pessoas estão atônitas. Examinam as candidaturas. Ficam perplexas.

 

São muitas palavras e pouco de concreto. Os programas dos candidatos, que já os apresentaram, são corrigidos diariamente. Parece bolsa de apostas.

 

Conforme o humor do eleitorado, de acordo com as pesquisas internas de cada candidatura, se alteram. Às vezes buscam a flexibilização das leis trabalhistas.

 

Outras vezes, manterão tudo como esta. O fator previdenciário, instrumento para retardar a aposentadoria dos trabalhadores, é combatido exatamente pelo candidato do partido que o criou.

 

O mesmo ocorre com a reeleição. Fernando Henrique Cardoso, em má hora, incluiu no constitucionalismo brasileiro a péssima prática. Ela era vedada, na vida republicana, desde a Constituição de 1891.

 

O seu candidato à presidência da República, agora, é defensor do fim da malfadada prática. Não dá para compreender. Eles não se entendem nem mesmo no interior da própria agremiação partidária. Não há a mínima coerência nas proposições.

 

Idêntica situação se verifica no caso das drogas. O tema é relevante. Como se sabe o ex presidente tucano é a favor da liberalização. Tem, inclusive, assinado documentos de natureza internacional a respeito.

 

O seu candidato a senador, em São Paulo, José Serra, ao contrário, defende firme combate a todas as drogas. Não existe a menor consistência na atuação dos lideres partidários. Verdadeira casa de ninguém.

 

Estes dois exemplos demonstram como o quadro partidário, ora existente, não possui coerência alguma. Cada um diz o que quer e de acordo com a ocasião.

 

Fala-se muito em reforma políticas. Claro que algumas são oportunas. O fim da farra partidária – trinta e duas legendas – é tema relevante. É preciso criar uma cláusula de barreira.

 

As sobras eleitorais, como existentes no voto proporcional, devem ser reexaminadas. Mera operação aritmética. Terminar com as coligações nos pleitos para a Câmara Federal e Assembléias Legislativas é outro assunto relevante.

 

Mas, o principal tema, em uma eventual reforma eleitoral, se encontra no âmago dos partidos políticos. Não há democracia interna. As convenções são uma farsa comandada pelos titulares dos cargos diretivos.

 

Não se elaboram manifestos ou programas para a atuação eleitoral. Cada candidato diz o que quer sem qualquer responsabilidade perante a direção partidária.

 

Não existem falhas nos mecanismo eleitorais. A Justiça Eleitoral funciona com objetividade e isenção. Os gargalos se encontram nos partidos políticos.

 

Estes deixaram de ser organismos cívicos para, com algumas exceções, se transformarem em sinecuras mantidas com verbas públicas. Recebem mensalmente importâncias vultosas.

 

Portanto, quando se fala em reforma política, a primeira premissa seria alterar os costumes partidários. Estes são a raiz das mazelas da vida pública nacional.

 

Ai, porém, entram os interesses dos integrantes de cada agremiação, especialmente de seus dirigentes. Ninguém quer perder as benesses estatais.

 

Todos, todavia, se declaram éticos e desinteressados. Uma farsa.


LINCHAMENTO MORAL

O cenário eleitoral é tão extravagante. Encobre situações reais da vida cotidiana. Ou, em passe de magia, amplia episódios costumeiros sem qualquer conteúdo de maldade.

 

Em Porto Alegre, uma jovem fanática por seu clube de futebol, no meio de um difícil jogo, lança palavras tolas contra um goleiro. Coisa comum em campos de futebol.

 

Não havia – é só ver a expressão da jovem – intuito agressivo, apenas torcida irracional. No entanto, o episódio – certamente lamentável – foi levado ao extremo pelos meios televisivos de informação.

 

Aqui cabe a pergunta: quem agiu pior? A jovem ingênua e fanatizada pela camisa de seu clube ou os meios de comunicação, que tornaram, uma situação banal nos estádios, em um assunto permanente?

 

Há ainda uma outra face do tema. É razoável transformar uma jovem de vinte anos em figura execrável para toda uma sociedade? Na amplitude da cobertura, seguramente, ocorreu dano moral.

 

Não se pode denegrir a imagem de uma pessoa por um ato impensado praticado no interior de uma arena esportiva, onde todas as liberdades acontecem. Por mais censuráveis que sejam.

 

Agiu mal e muito mal a jovem. Agiram pior muito pior os meios televisivos de comunicação ao expor continuadamente a imagem da jovem por toda a parte e por todo o tempo.

 

Foi um ato inaceitável o praticado pela torcedora. Será analisado e julgado pelo Poder Judiciário. É ilegal e inoportuno. Mas, o linchamento moral, tal como o linchamento físico, não pode ser admitido.

 

A sociedade brasileira está exausta. Já não admite mais equívocos por parte de nenhum ator social. O torcedor fanatizado ou o veículo de comunicação são partes deste todo.

 

Uns não podem ser expostos sem limites e outros não podem se aproveitar de um mau acontecimento para – também sem limites – denegrir a imagem de uma pessoa.

 

Não há limites nas atividades informativas. Os raros códigos éticos dos veículos de informação não são respeitados sequer por seus autores. Um verdadeiro pântano esta presente neste setor importante da sociedade.

 

A liberdade é essencial para o bom desenvolvimento da democracia. A libertinagem fere os valores médios da comunidade. A imagem de uma pessoa – por mais repugnante que sejam seus atos – não pode ser lançada nas telas ilimitadamente.

 

Há parâmetros para a atuação de cada segmento da sociedade. Não podem alguns, sob o pretexto da liberdade, violar a dignidade pessoal de alguém debaixo do manto da livre informação.

 

A jovem de Porto Alegre e o sensível goleiro, sem saber, lançaram luzes para um cenário presente todos os dias nos informativos da televisão. Figuras humanas expostas sem qualquer respeito aos mais elementares princípios de convivência.

 

Defendeu-se uma boa tese – a luta contra o racismo – esqueceu-se a preservação da dignidade da pessoa. A jovem torcedora é – em sua irracionalidade – a demonstração do desamor às pessoas que avançam por todo o País.

 

É preciso dar um basta aos linchamentos morais.


INSUPORTÁVEL

Nada mais exaustivo que uma campanha eleitoral. A cidadania se mantém perplexa perante tantas informações desencontradas. Debates sem oração principal.

 

Alguns andam pelas ruas coletando assinatura para a instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte específica para a realização de uma reforma eleitoral.

 

Não existe a possibilidade de uma Constituinte exclusiva. Ela, caso convocada, terá competência para a alteração de qualquer tema constitucional.

 

Não pode se circunscrever apenas a assuntos eleitorais. Ainda por que os problemas existentes na sociedade brasileira não se encontram nos mecanismos eleitorais.

 

Eles estão presentes na má qualidade da representação política. Na fragilidade orgânica dos partidos e conseqüente má escolha dos candidatos.

 

Não há por parte das agremiações nenhuma preocupação com a implantação de uma escala de valores morais. Vale tudo em matéria ética. Um horror.

 

Não se formam gestores dos negócios públicos. As campanhas são vazias exposições dos figurantes. Nenhuma idéia concreta sobre a arte e a ciência de governar.

 

Os mesmos erros corriqueiros quando da redemocratização se repetem depois de tantos anos de plenitude da liberdade. Os lideres se mostram vazios e novas personalidades não surgem. São sempre os mesmos.

 

A desmoralização do processo eleitoral parece ser proposital. É possível que alguns atores desejam uma quebra da democracia. A tratam tão mal. Só pode ser proposital.

 

Os programas dos inúmeros partidos – são trinta e dois – se parecem ou repetem velhos chavões do passado. É melancólico constatar que, após tantos fracassos, ainda existam tantos partidos extremistas no Brasil.

 

Há para todos os gostos. Só que atuam de maneira superficial. Tomam de antigos chavões e os repetem enfadonhamente. É um pandemônio da pior espécie.

 

O observador estrangeiro deve ficar perplexo perante o que vê neste País tropical. Parece um museu de antropologia. As mais superadas idéias-forças se encontram ativas no panorama pátrio.

 

Que lastima. Os partidos transformaram em pequenos balcões – salvo exceções raras – onde se fala de tudo, salvo do fundamental: a solução efetiva das questões existentes nas comunidades.

 

As direções partidárias não fiscalizam seus candidatos aos parlamentos e a apresentação destes, no rádio e na televisão, por vezes, torna-se hilariante.

 

Hilariante, porém trágico. As candidaturas expostas pretendem dirigir o Estado e o País. Não se mostram preparadas para tanto. Certamente, teriam mais sucesso em um picadeiro.

 

Já se disse que o brasileiro nasce, abre os olhos, vê a natureza em festa, pensa que esta em um circo e torna-se um palhaço. Isto pode valer para alguns. A grande maioria da população se revolta.

 

Há uma canseira cívica no ar. O eleitor consciente se acha ultrajado. Amargurado. Já não sabe a quem recorrer. Perdeu a esperança nos partidos.

 

Este é o risco. A sociedade está à beira do precipício. Vai decaindo a cada dia como sociedade civilizada. Os partidos precisam ser contidos na volúpia de poder e na ação caricata de seus membros.

 

Não dá para suportar o insuportável.


SEMPRE POLÍTICA

As campanhas eleitorais brasileiras sempre surpreendem. Particularmente as presidenciais. Surgem figuras exóticas vindas dos mais estranhos desvãos da sociedade.

 

Agitam. Oferecem mensagens utópicas. Agem com uma descontração capaz de perturbar o mais desinibido dos mortais. Pelo carisma de suas personalidades criam ondas populares avassaladoras.

 

Levam, em sua passagem, velhas estruturas políticas. Partidos consolidados. Pensamentos elaborados em muitos séculos. Devastam situações consolidadas.

 

Entre estas figuras de aluvião, há exemplos marcantes na História pátria. Um, na busca do Poder perene, renunciou no Dia do Soldado. Outro, após sacar as poupanças dos cidadãos, foi alvo de um processo de impedimento.

 

São apenas dois exemplos. Ambos, contudo, custaram caro às finanças nacionais e muito mais à democracia brasileira. As aventuras sempre têm um alto preço na vida política dos povos.

 

Toda personagem que se apresenta como um novo messias leva a veredas altamente perigosas. Basta recordar no plano europeu apenas dois figurantes expressivos: Hitler e Mussolini.

 

A burguesia alemã e a italiana apoiaram inteiramente a presença dos dois governantes. Era o novo que chegava à política. Não transigiriam com os velhos partidos. Nem sequer com as mais conspícuas personagens.

 

O fascismo e o nazismo era o novo que chegava ao mercado político. Desejavam mudar os costumes e as filosofias até então vigentes. Era preciso começar tudo de novo.

 

Foi um drama social jamais visto pela humanidade. A Alemanha acabou destruída pelos aliados. A Itália caiu na mais amarga depressão. Fascismo e nazismo ruíram como castelos de cartas.

 

Agora, no Brasil se fala em “nova política”. Não há nova política no cenário doutrinário da humanidade desde Aristóteles. Podem conferir roupagens novas à política.

 

A sua essência, porém, permanece idêntica com qualquer aspecto externo. A última grande experiência do novo em político foi apresentada por Maquiavel.

 

O sábio florentino apontou para a área nodal da arte e da ciência da Política. Demonstrou como o homem é pérfido e a impossibilidade de se confiar, portanto, nos que rodeiam os detentores do Poder.

 

Não há como somar permanentemente as pessoas em torno de um mesmo objetivo. Na caminhada, ocorrerão defecções e, o pior, traições inesperadas.

 

É, pois, amargo se assistir pelo rádio e pela televisão personalidades expondo que somaram todas as pessoas. Unirão todos os políticos em torno de uma única liderança.

 

Se fosse tão fácil, não teriam existido tantas revoluções, golpes, pronunciamentos, guerras na busca de um só pensamento. Toda utopia acaba em tragédia

 

A humanidade ocidental parece ter aprendido a dura lição da História. Os brasileiros continuam a acreditar em contos de fada. Vai dar lobo mau. É só esperar.