VIOLÊNCIA GERA VIOLÊNCIA


A dramaticidade ocupou o espaço mental dos brasileiros no decorrer da semana que se foi. A presença de acontecimentos dolorosos permitiu reflexão sobre as mil estórias concebidas sobre a bondade natural de nossa sociedade.

As pessoas e as sociedades têm as mesmas condicionantes por toda a parte. Quando o ambiente é ausente de conflitos, as pessoas mostram-se prestativas e receptivas às demais.

Quando as relações intersubjetivas tornam-se desumanas e uma carga de violência se espalha pelas comunidades, surge, a partir de sintomas, por vezes, despercebidos, a explosão de brutalidade.

Esta brutalidade expande-se com rapidez absurda e incontrolável graças aos meios contemporâneos de exposição. O rádio, a televisão e a internet tornaram todos os acontecimentos instantâneos e universais.

Já não existe tempo para depurar os episódios do cotidiano em todas as partes do planeta. Os desastres produzidos pela natureza, no outro extremo do planeta, ingressam nos lares e por toda a parte em um átimo de tempo.

As violências praticadas pelas forças armadas dos países intervencionistas são captadas em todos os espaços e geram um desconforto psicológico em todas nas pessoas, mesmo naquelas que desejam manter-se afastadas da realidade.

Os crimes diários e tristemente presentes nas grandes cidades são reproduzidos à saciedade todos os momentos. Geram depressão e emulação em grande parte da comunidade.

Chega um momento em que todos têm medo. Os mínimos atos do cotidiano assustam. Sair à rua torna-se um pesadelo. Permanecer em lugar público gera uma tensão nervosa inconcebível.

Dirigir um veículo assemelha-se a uma temeridade. Estar em uma sala de aulas, um motivo de preocupação. Todas estas situações se encontram presentes, hoje, por toda a parte e no íntimo de todas as pessoas.

Claro que elas são produtos de uma realidade que envolve a cada um, nas áreas urbanas de todas as cidades. Não pode deixar de se encontrar presente nos meios de informação.

A liberdade de expressão constitui exigência fundamental da democracia. E esta, de sua parte, requer que a cidadania se encontre sempre bem informada, pois a informação conduz ao aprimoramento dos cidadãos.

A estes – os cidadãos – as democracias conferem o direito de optar por políticas públicas as mais diversas e até mesmo de concebê-las a fim de oferecer diretrizes aos partidos políticos e aos governantes.

Esta percepção, no entanto, não pode fazer esquecer todos os ângulos do grave problema das comunicações. A liberdade de apresentar ideias e fatos deve ser plena.

Isto, porém, não pode ferir os traços mínimos do bom senso. O exagero de oferta de imagens sobre as tragédias leva a uma esquizofrenia coletiva. O medo se instala por toda a parte.

Os veículos eletrônicos de comunicação precisariam se pautar por Códigos Éticos comuns que permitissem a exposição de toda a verdade, sem ferir as sensibilidades pela excessiva repetição do já visto.

Reapresentar cenas – muitas vezes com a indicação “ao vivo” – de fatos já exibidos e do passado, mesmo que recente, leva à exaustão psicológica coletiva.

Há entre os operadores das emissoras o argumento da concorrência. A emissora concorrente exibe, devo fazer também, apontam alguns responsáveis pelos infindáveis telejornais.

A justificativa é agressiva e contraproducente. Nivela a todos por baixo. Quanto mais grotesco o concorrente, mais deve baixar o nível. Certamente, até atingir os mais rasteiros limites de rusticidade.

Os meios de comunicação eletrônicos são captados por toda a espécie de pessoas. Adultos capazes de analisar as situações. Crianças em formação. Personalidades mentalmente sadias. Outras com traços esquizoides.

É momento de se atingir uma comunicação adulta e sadia. A sociedade lutou anos em busca da democracia. Cabe agora colocar-se em alerta contra os abusos das imagens. A realidade necessita ser conhecida em sua plenitude. O excesso de reverberação, contudo, pode levar à banalização da violência.

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