VATICANOLEAKS


Não há santos no Vaticano. É a conclusão inevitável recolhida das últimas notícias oriundas da Itália. Há uma semana constatou-se que o corpo de um mafioso fora enterrado em santuário exclusivo dos dignitários eclesiásticos.

Se tanto não bastasse, permanece o mistério da morte da menina Melissa, filha de um funcionário do Estado pontifício. A morte da jovem se vincula a operações financeiras realizadas pelo Banco Ambrosiano, instituição financeira do Papado.
Mas, o pequeno Estado não para de oferecer noticiais amargas. Agora, descobre-se que o mordomo do Papa, pessoa de absoluta confiança, distribui correspondências secretas a órgãos de difusão.
O mordomo era encarregado de todos os serviços nos aposentos pontifícios. Da primeira refeição até a noite, quando fechava as cortinas do aposento de dormir, o mordomo estava sempre presente.
Paolo Gabriele, pessoa de quarenta e seis anos, é casado e pai de três filhos. Mora atrás dos muros da Cidade do Vaticano. Possuía plena liberdade e, sem escrúpulos, recolheu documentos privados. Entregou estes a jornalistas, alguns autores de livros sensacionalistas.
Foi preso Gabriele pelo Ministério Público pontifício. Delicada a situação construída pelo episódio. O mordomo, que convivia com o Papa, deverá ser julgado em um Estado com características únicas. Nele os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – concentram-se na pessoa de Bento XVI, o Papa,
Paoleto, com é chamado o mordomo ingrato, entre seus colegas, criou uma situação nova na História da Igreja. Desde o Século V, quando foi concebido o Vaticano, os seus segredos mantiveram invioláveis.
Rompeu-se, pois, uma antiga tradição de respeito à privacidade de figura religiosa reconhecida por toda a parte e por todas as crenças. É inacreditável que, em um Estado com cerca de mil habitantes, ocorra episódios como o agora verificado.
O Estado do Vaticano é o espaço territorial que restou dos antigos Estados Pontifícios integrados a Itália, após a unidade conquista pelos movimentos revolucionários acontecidos no Século XIX.
É pequeno. Conta com apenas 44 hectares (Praça e Basílica de São Pedro, palácio, museus e jardins). Foi reconhecido por Mussolini por meio do chamado Tratado de Latrão promulgado em 1929.
A palavra Vaticano contém uma ideia extremamente rica. Reporta-se ao espírito – numen – que abre a boca do recém nascido para que este possa emitir seu primeiro grito.
Ainda na velha Roma, Vaticano era o espírito dos vaticínios. Certamente, estes não são bons para os próximos meses. Há ainda para ser solucionado o caso do presidente do Banco Ambrosiona – não o caso antigo – mas o atual referente à má gestão da instituição financeira.
De todo o episódio do mordomo, onde a corrupção humana se encontra com toda a sua Indignidade, recolhe-se que, na atualidade, não existem mais áreas preservadas a bisbilhotice coletiva.
É melhor, pois adotar o princípio da plena transparência. Onde existe publicidade, mordomos não têm o que contar ou recolher. Tudo é conhecido e pode livremente circular.
A contemporaneidade é o espaço da clareza absoluta. Tudo deve ser conhecido e sabido. Não há áreas privadas. Nenhuma autoridade pode se imaginar distante da exposição pública de seus atos e palavras.
Bento XVI, um alemão parece não ter merecido acolhida calorosa de seus auxiliares italianos. Trata-se de uma antiga tradição da Cúria Roma. O estrangeiro – mesmo em uma Igreja que se diz universal – não merece entusiasmo por parte de seus súditos nativos.
E, para tornar o quadro ainda mais cinza, a idade avançada de Bento XVI aponta para a próxima sucessão. Os apetites tornam-se vorazes.
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