USP: UMA UNIVERSIDADE DE TODOS


As universidades de todas as partes contam com longa e bela História. Desde os tempos medievais, quando Bolonha foi fundada, até os dias contemporâneos grandes eventos aconteceram nas universidades.

Muitos exemplos gratificantes poderiam ser apontados. Mestres que não se submeteram à violência da Inquisição, em passado remoto, alunos que lutaram pela liberdade em passado próximo.

Há figuras símbolos em todas as universidades. Personagens que não se curvaram perante os poderosos. Estes conviveram com crápulas a serviço do absolutismo ou de ditaduras.

Contudo, o resultado final é sempre em favor da universidade. Ela sempre caracterizou um lugar de debates e arejamento de idéias. O silêncio na universidade indica enfermidade na sociedade.

A universidade brasileira, apesar de nova no tempo, não fugiu ao comportamento de suas congêneres existentes na Europa ou nas Américas.

Quando dos trabalhos constituintes de 1823, instalados em seguida à Proclamação da Independência, um dos temas relevantes tratados pelos parlamentares constituiu-se na fundação de uma universidade.

O estado nacional que nascia necessitava de bons quadros operativos. A universidade podia fornecê-los. O sonho acalentado terminou por um motivo muito singelo: faltava dinheiro.

A ausência de pressupostos financeiros levou, quando do retorno dos trabalhos parlamentares, após a outorga da Constituição de 1824, à criação de duas escolas de Direito.

Instalaram-se as Faculdades de Direito de Olinda – hoje Recife – e a de São Paulo. Duas instituições que moldaram o pensamento brasileiro e a constante cultura bacharelesca do País.

Demorou – e muito – para finalmente se constituir uma universidade no Brasil. Espalharam-se institutos autônomos por todo o território. No entanto, a soma de todos os saberes, em um só lugar, não acontecia.

Algumas poucas experiências ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo. Fracassaram. Muitos estudiosos creditam à longa espera os atrasos ainda existentes na nossa sociedade.

Pode ser. Contudo, uma reflexão em sentido contrário permite outra visão. As universidades surgiram para isolar os patrícios dos plebeus. Diferenciá-los.

Basta um singelo olhar para a América espanhola, onde as universidades são contemporâneas à chegada dos europeus, para se constatar que a evolução social, nos países, hispano-falantes gerou castas entre iguais.

Por aqui, os institutos isolados mostraram-se mais flexíveis e menos elitistas, apesar da clássica divisão entre livres e escravos presente por estas terras por inaceitável espaço temporal.

Por que estas divagações? Motivo singelo. Aconteceram eleições para a reitoria na Universidade de São Paulo. Como em toda eleição universitária, os jornais da província longamente trataram do assunto.

É explicável. A USP não pertence a um específico Estado. Ela se apresenta entre as mais qualificadas universidades do Brasil, apesar de nova no tempo em relação às instituições estrangeiras.

À distância todos admiram a Universidade de São Paulo. E com razão. Os seus quadros docentes contam com professores de renome, homens e mulher dedicados e perseverantes.

Os seus equipamentos, em geral, são atualizados. As instalações boas para um país em desenvolvimento. O seu campus é amplo e urbanisticamente apreciável.

Estes registros podem levar a uma falsa conclusão. Tudo vai bem na USP. Não é bem assim. A burocracia asfixia os trabalhos universitários. Exige um esforço suplementar dos docentes. Desgasta-os.

Aguarda-se do novo Reitor – João Grandino Rodas – atenção superior sobre este aspecto da universidade que vai reger: a burocracia e os entraves que gera.

João Grandino Rodas, personalidade contemporânea, conhece e conviveu com o mundo exterior à universidade e isto pode fazê-lo capaz de incentivar novas culturas no interior da USP.

Será bom e oportuno. Ganharão todos os que buscam a USP para freqüentar seus cursos em todos os graus. A universidade contemporânea não pode ser feudo de ninguém e nem sofrer ingênuas divisões internas.

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