UMA QUESTÃO DE COSTUMES


Os costumes dos povos foram recolhidos por muitos pensadores do passado. No mundo árabe, é conhecida a obra de Ibn Jaldún: Introdução à História Universal. Corria o Século XIV.

Muito posteriormente, já em meados do Século XVIII, um francês, feliz e bem colocado na nobreza, procurou recolher – e criticar – os costumes vigentes, particularmente em sua obra Cartas Persas. Fala-se de Montesquieu.

Outros muitos outros, buscaram, em diferentes épocas e situações, captar as tradições e usos dos povos e os confrontaram entre si. Os mais bizarros acontecimentos foram colhidos, fazendo o observador muitas vezes sorrir e outras se entristecer.

Continuadamente, a leitura do noticiário revela inaceitáveis condutas, a partir de um ponto de visão colocado neste extremo Ocidente, onde se situa o Brasil.

A forma de tratamento conferido às mulheres em determinados países coloca-se como desumano. Inaceitável. O racismo imperante em determinadas regiões insustentável. Os conflitos religiosos – e o fundamentalismo – como ultrajantes.

O preconceito contra o outro em razão de suas opções sexuais como violação da dignidade humana e contrária à auto-afirmação do agir de cada pessoa.

Os exemplos são numerosos e a temática é cláusula aberta. Podem ser arrolados múltiplos casos em que as visões dos povos diferem e, conforme o ângulo de visão do observador geram espanto.

No campo da corrupção – particularmente quando se trata do uso indevido de dinheiros públicos ou tráfico de influência – são gritantes as diferenças entre o tratamento e os reflexos produzidos entre os povos.

Cada sociedade analisa o fenômeno de forma diversa. Os japoneses, pilhados em malversação do erário, suicidam-se. Os israelenses analisam a causa do ato. Relevam quando em jogo a segurança do País.

Os americanos, alguma vezes, também oferecem a própria vida em holocausto. O indiano, como faz, ainda agora, o guru Baba Ramdev, ao combater a corrupção em seu país, inicia greve de fome.

Em determinados países árabes, o culpado por dilapidação de bens comuns tem sua mão direita decepada. Em todos os povos – parece ser norma universal – o abuso dos ocupantes dos cargos administrativo leva à execração.

A honra individual deixar de ser respeitada e o violador da confiança outorgada torna-se réprobo. Deixa de participar do ciclo das pessoas eticamente recomendadas.

Aqui, nos trópicos é diferente. Quanto mais esperto o agente público, mais recomendado é por toda a parte. É recebido por financistas. Cortejado por empreendedores. Festejado como um vencedor.

Não ocorrem suicídios. Não há banimento social. Tudo é esquecido. Nada é reprovável. Os valores, nestas terras, apodrecem abaixo dos raios do Sol, como já percebera Frei Vicente do Salvador, em sua clássica História do Brasil.

Os tempos continuaram. As formas de refrigeração permitem que a carne do animal abatido se conserve indefinidamente. Se assim é, no cenário da natureza, no campo dos costumes ainda mais se alteraram os usos.

Não há mortos como no Japão. Mãos decepadas como acontece no mundo árabe profundo. Esquecimento como no caso israelense, por motivos de segurança.

Por aqui, pode-se violar princípios de convivência. Agredir valores. Violar confianças. A pena é simples. Tudo terminará em longa entrevista concedida a qualquer emissora de televisão.

São os costumes por aqui.

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