SEXO POR TARIFA, NA POLÍTICA


As aparências se alteram. Os costumes se transformam. Ela permanece. Dedicada ao culto sagrado, nas velhas civilizações. Depois, proibida. Muitas vezes, regulamentada. Quase sempre tolerada.

Atingiu seu apogeu, quando todos esperavam redução, graças à acentuada liberação dos costumes. Previsão ingênua. As sociedades hedonistas exploram todas as demandas. Não descuidariam das sensitivas.

Tatua-se. Bebe-se. Busca-se a alienação transitória. Tudo é permitido. Todos os limites se romperam. Não estaria fora deste cenário a prostituição. Fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade.

O tema emerge com cores fortes. Nos Estados Unidos, país considerado moralista, escândalos se sucedem. Um contínuo rompimento da intimidade. Nada se encontra a salvo da bisbilhotice.

O Governador do importante Estado de Nova Iorque é lançado à execração pública. Um adúltero. Convivia com prostitutas profissionais, em um país considerado abolicionista, livre de regulamentação da atividade.

Interessante. Grande é o número de políticos apontados como envolvidos com sexo de aluguel. Muitos os fatores desta incidência. Certamente, o primeiro é a presença das personalidades públicas nos meios de comunicação.

Na vida de um político, inexistem espaços reservados à intimidade. A exposição é a regra. Gestos e atitudes pessoais tornam-se públicos. Com maior relevância, atos íntimos. O sadismo coletivo fica saciado.

Nas antigas civilizações, muitas vezes, a prostituição encontrou equivalência com a idolatria. Com louváveis exceções, os políticos consideram-se pequenos deuses. O sucesso é inebriante.

Lançam seus helicópteros no interior de tempestades. Invadem com seus aviões áreas infestadas de cúmulos. Rodam por estradas de elevado risco, imersos em temporais.

Só antropologia, pois, pode explicar a aproximação do político com a prostituta. Encontra raízes nas velhas crenças religiosas, quando aquelas, em funções rituais, refletiam práticas idólatras. Os políticos e as prostitutas são falsas divindades se entrelaçando.

Alguns povos aboliram a prostituição. Outros a liberaram. Cobraram pesados tributos à atividade. Algumas vezes foi combatida. Em geral, liberada.

Santos, como Agostinho e Tomás de Aquino, defenderam a teoria da tolerância social. Foram simples em seus argumentos. O Estado não pode tolerar o mal, mas também não pode eliminar todos os males.

Abriram as portas para prática do sexo tarifado por toda a Idade Média. Já no Século XVII, foram acompanhados por teólogos salmantinos. Permitiram a regulamentação da atividade.

Assim, caminhou-se, entre regulamentação e liberdade plena. Sofreu forte censura com a implantação do calvinismo. Grande desenvolvimento nas cortes de todos os tempos.

Atingiu culminância com Luiz XV, onde a favorita, Pompadour, dominou o rei e protegeu filósofos e escritores. A galanteria tornou-se uma arte e as damas da corte a exerceram com grande proveito.

Volta-se aos tempos contemporâneos. Quando a atividade parecia se extinguir, desenvolve-se. Atinge as primeiras páginas dos mais vetustos jornais. Abre os mais conservadores telejornais.

Eles, sempre eles, os políticos aparecem nas manchetes. Confessam, muitas vezes, ao lado de suas compreensivas esposas ou admiradoras destes deuses de ficção.

Tudo parece estranho. Repete-se nestas terras tropicais e afirma-se nos Estados Unidos, que um dia orgulhosamente proclamou-se, em passado longínquo, puritano.

Aqui, nestes trópicos, que, segundo cronista colonial, permitem todos os pecados, a prática da prostituição causa exasperação às pessoas com mínimo senso ético. Um ser humano transformado em objeto de outro. É perverso.

Lá, nos Estados Unidos, velho defensor de rígidos princípios morais, o assunto torna-se ainda mais sério. Todos os valores pregados pelos antigos colonizadores ruíram.

Com seu profundo traço pragmático, o consumismo elevou a prática do sexo por dinheiro à condição de instituto político. Tornou o sexo tarifado em instrumento de recall.

É verdade que alguns políticos escapam.

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