RIO GRANDE DO NORTE, O COMEÇO


A crise da segurança pública no Rio Grande do Norte, por si só, é grave e indica a indigência a que chegaram as instituições policiais em todo o País.

Policia civil e militar em greve motivada pela fome infringida aos seus contingentes e respectivos  familiares.

É curial que ninguém vive sem comer.

Os governantes desejam simplesmente que todos cumpram seus deveres e eles deixam de cumprir suas obrigações impunimente.

Não é possível.

Um dia a corda rompe.

Foi o que aconteceu no Rio Grande do Norte.

Espera-se que seja apenas um cenário específico e circunscrito.

No entanto, não é bem assim.

A tragédia potiguar é a tragédia nacional.

A greve das categorias policias – apesar de muito grave –, no entanto, não é o mais preocupante no episódio rio grandense do norte.

Passou desapercebida ou cinicamente omitida a situação mais aguda de todo o episódio.

O Poder Judiciário determinou a pronta cessação do movimento sob pena de prisão dos amotinados.

A decisão foi solenemente desprezada.

Ninguém deu importância à fala judicial, como se esta nunca tivesse existido.

Aqui a gravidade maior a ser registrada: quando as decisões judiciais são ignoradas por funcionários encarregados, muitas vezes, de cumpri-las, fica caracterizada a falência do sistema legal.

Erraram os magistrados do Rio Grande do Norte.

As fórmulas corriqueiras de decisões já não bastam para situações dramáticas como as vividas naquela unidade da Federação.

É necessário adequar o Direito às novas realidades.

Determinar a prisão de quem esta sofrendo – e seus familiares – carência de suas necessidades básicas é oferecer prêmio.

Nos presídios, os políciais que não recebem seus vencimentos há meses, pelo menos farão jus às “quentinhas”.

Livres permanecem famintos  e desesperados.

Os juízes brasileiros ainda agem, muitas vezes, com tradicionalismo.

Ocorre que se vive hoje crise econômica e moral sem precedentes em nossa História.

É preciso buscar novos métodos de aplicação da lei afim de se preservar o Estado de Direito.

Aplicar medidas prisionais a quem se encontra famélico é desconhecer as necessidades básicas dos cidadãos comuns.

Lance suas canetas tinteiros de marcas renovadas de lado e passem a usar singelas esferográficas na assinatura de pomposas decisões.

Senhores Juízes caiam na real.

O Brasil está em frangalhos.

Só algumas categorias de servidores são privilegiadas, contam com auxílios das mais variadas nomenclaturas.

A grande maioria vive miseravelmente.

Vê suas famílias sofrendo as amarguras da miséria que bateu em suas vidas.

Em momentos de crise é preciso fazer exame de consciência.

Constatar que muitas leis são injustas e vãs e que a política deve sempre ser separada da Justiça.

O Rio Grande do Norte aponta para o futuro.

O desmantelamento paulatino do Estado de Direito.

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