RETRATO DE UMA CRISE


Falta menos de uma semana para o segundo turno do pleito em São Paulo. Já se podem tirar lições dos acontecimentos eleitorais da campanha e dos atos que a antecederam.
A primeira lição, certamente, incide no interior da vida partidária. Constata o observador arguto a oligarquização dos comandos dos partidos.
Enfeixaram-se as direções das agremiações políticas nas mãos de uns poucos. Eles tudo decidem e nem sequer dão importância à vontade de seus filiados.
Quem manda é o “boss”. Ele pode tudo. Escolhe para candidato quem quer e o lança no mercado eleitoral sem ouvir ninguém. Foi assim no PT e não foi diferente no PSDB.
As aparências podem apresentar conteúdos diferentes. Prévias artificiais e convenções meramente formais construíram grandes cenários. Mas, na verdade, quem tudo dominava eram uns poucos detentores de chefia oligárquica.
Ora, uma democracia torna-se frágil, em seu conteúdo, quando alguns poucos manipulam vontades de filiados a partidos e, depois, por via de conseqüência, o próprio eleitorado.
Os dois candidatos que chegaram ao segundo turno alcançaram suas candidaturas graças à vontade individuais. Não foram produtos gerados pela escolha coletiva dos filiados a seus respectivos partidos.
Esta forma de agir dos partidos é a negação da própria democracia. Nada de debates internos. Nenhuma consulta aos filiados. Uma imposição do vértice para a base.
O fenonemo não é apenas nativo. Ocorre nas diversas democracias e ele pode se transformar em perigosa moléstia para o regime escolhido pela maioria dos povos Ocidentais.
Leva a uma profunda descrença nas práticas democráticas. Cria uma natural animosidade ao jogo político que deveria se apresentar aberto e arejado. Basta ver a abstenção do primeiro turno.
A segunda lição do processo eleitoral, ainda em curso, é como a sociedade recebe de maneira desfavorável as campanhas negativas. Quando o candidato usa seu tempo de rádio e televisão para agredir seu adversário, perde.
O eleitor não deseja agressões. Espera mensagens positivas e propositivas. A simples agressão verbal não leva a nada. Ao contrário, irrita e gera rejeição em relação ao expositor.
Os marqueteiros, em sua profunda empáfia, pensam ser senhores da consciência dos eleitores. Erram profundamente.  Deviam, antes de elaborar uma campanha, se submeter a um analista.
Deviam deixar seus traumas e complexos para outras ocasiões. Uma campanha eleitoral é momento de expor novas idéias e novas políticas públicas.
Falar mal do outro, por falar, é hábito ultrapassado. Próprio de antigas campanhas e de velhos hábitos superados. O mundo contemporâneo é mais desinibido. As pessoas pensam e falam.
Deixam seus rancores para trás. Exatamente ao contrário do que ocorreu nesta campanha, quando alguns só pensaram em denegrir a imagem e o passado do adversário.
Esta maneira de agir criou um desconforto enorme no eleitorado, que reage abstendo-se, votando em branco e nulo. Ou conferindo seu voto àquele que menos agrediu. Ou seja, comportou-se civilmente.
Faltam pouquíssimos dias de campanha. Pouco mais poderá surgir. Os debates repetirão os já realizados. Engessados e mais congelados que um Iceberg.
Por que não sentar os dois contendores em torno de uma mesa? Deixá-los dialogar em torno de temas sobre a Cidade de São Paulo. Poderiam falar. Se exprimir e mostrar o grau de educação que possuem.
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