POLÍCIA FEDERAL, LÁ


Alguns acontecimentos internacionais passam despercebidos em nossos meios de comunicação. Não ocupam linha sequer. Aqui, perdem-se espaços imensos com temas menores.

Há o prazer pela conversa fiada. A fofoca é hábito nacional. Acompanha-se a vida de personalidades em evidência. Pode ser um político, de preferência desonesto. Ou um artista, particularmente vinculado à televisão.

 Quando um político se envolve em alguma falcatrua, os costumes nacionais são descritos como os mais nefandos. Nenhum país iguala-se ao Brasil em fragilidade ética.

Não é bem assim, porém. De acordo com o respectivo grau de desenvolvimento econômico, as sociedades oferecem diferentes níveis de corrupção.

Nos atos de corrupção, a sofisticação se aprimora proporcionalmente à evolução social e econômica da sociedade hospedeira dos agentes corruptos.

Nos países pouco desenvolvidos, a corrupção é primária. Grosseira. Qualquer escuta telefônica autorizada pelo Poder Judiciário recolhe na rede policial uma imensidão de bagrinhos.

Peixes miúdos deixam rastros por toda a parte. Nadam com a cabeça fora da água. Quando a sofisticação surge, os tubarões refugiam-se em mar profundo. Longe das malhas policiais.

Em país exemplar, a República Federal da Alemanha, acaba de vir à tona uma imensa fuga de recursos financeiros. Por intermédio da obtenção de dados secretos, o governo alemão deixou a sociedade estarrecida.

Em fuga fiscal, pessoas depositam recursos extra contábeis em nome de fundações fictícias em Liechtenstein ou Listenstaine, como registra o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa.

Exatamente isto. Por meio de seus serviços de informação, o governo tedesco ingressou nos segredos bancários do minúsculo país. Encontrou um acervo incomum de trânsfugas.

O escândalo abalou a credibilidade de políticos e empresários. Ainda porque, em matéria de ganância, os seres humanos não apresentam diferenças quando tratam com o excremento do diabo. Isto é, o dinheiro.

A operação investigatória não parou aí. Os seus reflexos atingiram a Itália, já acostumada a situações exóticas em matéria de desvios financeiros, e chegaram à Espanha. Agora, aproximam-se da França.

A origem do dinheiro tem fontes diversas. Algumas vezes o narcotráfico. Outras vezes, a confusão entre o público e o privado. Ainda as falcatruas contábeis em empresas privadas. Ou heranças a serem ocultadas.

Muitas indagações surgem dos acontecimentos europeus. Primeiro, a permissividade financeira propiciada pelos minúsculos estados preservados no interior da União Européia.

Estes microestados representam, algumas vezes, tradições seculares. Estas merecem permanecer. Inadmissível é aceitar que estados minúsculos possam se transformar em agentes de lavagem de dinheiro.

A União Européia, tão zelosa no trato de suas comunidades nacionais – é só recordar o caso da exportação da carne brasileira – não pode permitir focos de lavagem de dinheiro, no interior de seu espaço territorial.

Certamente, nenhum estado nacional está livre da ação dos agentes financeiros de Liechtenstein. Os cinco continentes são fontes municiadoras dos cofres dos bancos deste principado.

Enquanto os políticos e os burocratas de Bruxelas não agem, as polícias de todos os estados nacionais têm uma obrigação cívica. Manter contato com o governo alemão e solicitar apoio para investigar seus nacionais.

Fala-se muito em globalização. Esta se tornou irreversível. Retraiu os estados nacionais não participantes do sistema de mercados. Estes empobreceram. Se assim é, oportuna se torna a globalização da ética.

Como aconteceu na Alemanha, Espanha e Itália, é provável que capitais brasileiros também tenham se refugiado no nano estado de Liechtenstein. Os capitais brasileiros também gostam de refúgios sofisticados.

A gente quer saber. Espera-se uma resposta das autoridades brasileiras. Trabalha-se em Mônaco para se reaver Cacciolla, o banqueiro fugidio. Seria oportuno o trabalho de agentes federais também em Berlim.

Há uma colaboração internacional entre as policiais. É boa e útil. A internacionalização da malícia exige ações eficazes. Saber, por exemplo, se recursos brasileiros refugiaram-se em Vaduz, capital de Liechtenstein.

print