PIRATININGA, A VERDADE*


 

 

Na América,

todo escrúpulo é fora de proposito… **

Uma História incorreta.

A do nascimento da cidade de São Paulo.

Historiadores do passado repetem inverdades a todo tempo.

Meios de comunicação, de hoje,reberram.

Nenhuma corrigenda.

Explica-se:

A História foi escrita pelos invasores.

Dominavam a escrita.

A inverdade se expressa na afirmação:

25 de janeiro,

aniversário da

Fundação da Cidade de São Paulo.

No agora centro histórico da cidade, erguia-se o aldeamento indígena de Piratininga.

Entre rios.

O planalto era intensamente povoado.

Nele viviam nossos ancestrais, os tupinambás.

Tibiriçá, o cacique.

Mantinha fortes vínculos com João Ramalho.

Um lançado*** que, há mais de quarenta anos, em 1554, vivia na Borda do Campo.

Hoje,  Santo André da Borda do Campo.

Existia, pois, um conglomerado humano nos altos dos rios Tiete, Tamanduateí e Anhangabaú.

No dia 25 de janeiro de 1554, graças ao apoio de João Ramalho,  celebrou-se missa no outeiro.

Por determinação do Padre Manuel da Nobrega, no local, abre-se escola de alfabetização.

Aqui, sim, o registro fiel.

Não pretendiam implantar uma aldeia.

Esta já existia.

Numerosa sua população.

Os registros indicam: instalaram uma escola.

Dia 25 de janeiro, data comemorativa da conversão de Paulo de Tarso.

A verdade:

João Ramalho, o grande apoiador dos jesuítas no planalto.

Colocado, porém, em posição subalterna por múltiplas razões.

A primeira –  escandalizava Nóbrega – a presença das muitas índias em sua vida.

Convivia com muitas mulheres.

Uma irmã, outra irmã.

Depois, outra mais.

Um polígamo por excelência.

Tornou-se progenitor de imensa prole.

Os filhos seguiram os hábitos do pai.

Nóbrega, o jesuíta, sentiu repulsa por figura, a seu ver, abjeta.

O pragmatismo, no entanto, venceu a repugnância.

Pecador e confessor fizeram acordo.

Cada um prosseguiu com suas visões do mundo.

A conjunção de esforços – entre o pecado e a virtude – permitiu se erguesse a escola, no hoje Páteo do Colégio.

Em carta, o jesuíta  aventou solução extrema para vencer seus escrúpulos:

Um indulto a ser concedido pelo Papa.

As mancebias seriam perdoadas.

O perdão, ao que se sabe, não aconteceu.

João Ramalho,  varão ativo, deu origem ao mestiço.

Desejaram os jesuítas catequizar o gentio.

Recuperar o lançado João Ramalho.

Não conseguiram seus intentos.

Ao contrário, paulistas e jesuítas se digladiaram até o extermínio.

Interesses econômicos superaram a possibilidade de eventual convivência.

Ambos desejavam os índios como parceiros.

O jesuíta, como trabalhadores nas reduções.

O paulista, como parceiros nas entradas sertão adentro.

Conflitaram.

Desta matriz, nasceu o melhor de São Paulo.

O espírito indomável de luta.

 

 

Referências.

*Piratininga = o peixe a secar, de pira= peixe, tininga= secar, seco, enxuto in Glossário Etimológico Tupi/Guarani – Leon F. R. Clerot – Edições do Senado Federal – Brasília – 2011.

**Carta do Padre Luís Brandão, em 1621 in 500 anos de educação no Brasil – Autêntica – Belo Horizonte – 2000.

*** lançado: termo usado, por Maria Beatriz Nizza da Silva e o. In Nova História da Expansão Portuguesa – Editorial Estampa – Lisboa – 1992, para indicar os náufragos, degredados, desertores e expurgados dos primeiros tempos da colonização.

Serrão, Joel – Dicionário de História de Portugal – Livraria Figueirinhas – Porto – 1985.

Charles E. O’Neill, S.J. e o. – Diccionário Histórico de la Compañia de Jesus – Bibliográfico – temático – Institutum Historicum S.I – Roma – 2001.

Nóbrega, Manuel da – Obra Completa – Edições Loyola – São Paulo – 2017.

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