PECORONI?


Neste domingo, 4 de março, os italianos se apresentam às urnas.

Eles irão recompor o Senado e a Câmara dos Deputados.

Há novidades no pleito que se desenrola.

É a aplicação da Rosatellum, a nova lei eleitoral.

Qual a novidade?

Uma interessante aplicação simultânea do voto proporcional e do voto uninominal.

Todo eleitor poderá votar duas vezes.

Escolherá, de acordo com a nova lei eleitoral, pelos dois sistemas.

Um terço dos futuros representantes serão escolhidos nominalmente e dois terços pelo sistema proporcional.

É maneira de, a um só tempo, valorizar os partidos e a pessoas, ou seja, candidatos.

As mesas eleitorais conhecem uma profunda confusão.

Os eleitores estão aturdidos com as duas cédulas oferecida para o escrutínio.

Tudo aconteceu durante a campanha.

General reformado deu voz de prisão para candidata de esquerda.

Fascistas indicando com adesivos, em Pavia, a casa dos antifascistas.

Líder afirmando que seu partido é biodegradável.

Um grande Coliseu político, onde as vítimas são os próprios italianos.

Encontram-se sofridos. Desempregados, especialmente os jovens.

Os imigrantes incomodam a pacatez das aldeias e das  cidades milenares.

Muitos lastimam a existência da União Europeia.

Mostram-se nostálgicos do efêmero passado imperial da era de Mussolini.

Enfim, a Itália é uma bota recheada de interrogações.

O que será o futuro?

É, hoje, indecifrável.

Amanhã, após os resultados os italianos se acertam.

Não se pode esquecer que foi na Itália que surgiu o eurocomunismo, em busca da democracia.

Objetivo impensável, naquela época de extrema presença da União Soviética.

Hoje, há uma agravante.

O número de partidos existentes.

Já não se fala na Democracia Cristã, no Partido Comunista Italiano e em poucas agremiações menores.

Agora, conta-se, entre outros, com os seguintes partidos:

Liberi e Uguali, Movimento 5 Stelle, Lega Nord, ForzaItalia, Fratelli d’Italia, Partido Democratico, Associazione +Europa.

Um imenso leque, não tão extenso como o brasileiro, mas mesmo assim exuberante.

Em seu filme Ginger e Fred o diretor Frederico Fellini coloca na boca de Marcello Mastroiani uma frase amarga e ao mesmo tempo reveladora de todos os povos.

Em um programa popular de televisão, Mastroiani tentou um arroubo.

Transmitir, ao vivo, o que pensava de seus compatriotas.

Faltou, porém, coragem ou oportunidade.

Quis chamar a todos os telespectadores de Pecoroni.

Será que os 46 milhões de eleitores da República Italiana merecem o epíteto?

Os resultados, nesta semana, responderão se o ator e o diretor estavam certos.

Parece que o rebanho de carneiros se rebelou.

 

 

Referências:

Pecoroni = popular: carneiros

Ginger e Fred, filme de 1986, de Federico Fellini.

O papel masculino principal foi de Marcello Mastroiani.

print