O PAPA: PERGUNTAS SEM RESPOSTAS


O povão não está nem ai. Continua sua vida normalmente. Pensa em seus dramas cotidianos. Toma sua cervejinha dominical. Problemas políticos da Cúria Romana não atingem a grande massa.
A renúncia do Papa é tema para as rodinhas da classe média, baluarte do catolicismo tradicional. Há perplexidade. Por que teria renunciado Bento XVI?
É pergunta que não se cala. As respostas oferecidas pelos altos dignitários da Igreja Católica não convence. Uma personalidade, elevada ao mais alto posto de sua hierarquia, não pode renunciar.
Se assim fosse, todos os dias governantes estariam deixando seus cargos, tais são as pressões do exercício das funções diretivas. Isto vale para a pessoa comum, um laico. Mais ainda para o Papa.
Este recebe seu mandato de um colegiado que, segundo os preceitos, recebe da Divindade a determinação de escolha. Os membros do colégio cardinalício, encerrados na Capela Sistina, captam dos céus a autorização para conferir o mandato papal.
Assim, nota-se que esta outorga não se aproxima de uma mera procuração conferida por um mandante qualquer. Este, no caso, seria a própria figura Superior.
Alguém poderá afirmar que o Código de Direito Canônico prevê a renúncia do Papa, dentro de determinadas condições. É bem verdade. Esta verdade, contudo, confronta-se com a magnitude dos poderes recebidos.
A insegurança gerada por uma renúncia, sem motivos expressos, salvo a idade e a canseira própria dos anos vividos, conduz a fragilidade ao rebanho.
O Papa, de acordo com decreto de 18 de julho de 1870, como cabeça da Igreja, é divinamente impedido de qualquer erro. Errou o Papa ao aceitar o seu mandato? Ou erro, no decorrer da semana, ao renunciá-lo?
Estas perguntas correm soltas entre as pessoas interessadas em assuntos religiosos, particularmente entre os católicos abertos às indagações. Estaria certo o Cardeal de Cracóvia ao afirmar que não cabe a ninguém deixar a sua cruz por vontade própria?
O rebanho, neste momento, encontra-se acéfalo. Qualquer sociedade, por mais insignificante que seja – não é o caso da Igreja Católica – não pode permanecer sem dirigente supremo.
É a anomia. O caminho para a instalação do caos. Muitos vêm no ato de Bento XVI uma demonstração de humildade. Desapego às coisas terrenas.
A direção da Igreja não é assunto terreno. É divino, com ensina a mais humildade das catequistas. Como tema divino, não pode receber tratamento de desconsideração.
Faltam respostas claras e precisas sobre a tormentosa renúncia. Não existem riscos externos ao Papado. As religiões, com exceções conhecidas, são mutuamente respeitadas.
Os temas internos da hierarquia romana, hoje, necessitam ser expostos a todos, especialmente o amargo tema da pedofilia. Esta deve ser combatida em todos os espaços.
Trata-se de prática covarde e repleta de indignidade. Se atingir alguns membros do clero, estes devem ser afastados e entregues, ainda porque desta não podem mais se livrar, à Justiça Comum.
A sociedade – religiosa ou laica – espera respostas precisas sobre o que efetivamente ocorreu na semana que antecede a Quaresma. Por ora, temos apenas cinzas.
Tudo parece perder consistência. A militância, nos tempos atuais, já não aceita posicionamentos fechados. A transparência dominou o mundo profano e, por conseqüência, atinge o religioso.
A Igreja Católica não pode quer viver fora da realidade. Seria pratica doentia. Não acrescentaria valores a sua longa trajetória.
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