O MUSEU DO IPIRANGA E A FIFA


Uma sociedade sem memória está fadada ao fracasso. O registro dos acontecimentos do passado permite a evolução das comunidades. São verdades cediças. Todos as conhecem.

 

Só a academia, no Brasil, parece desconhecer a importância dos episódios pretéritos para construir novas soluções para as demandas sociais e culturais das sociedades.

 

Um dos documentos públicos mais expressivos de São Paulo – e por conseqüência do Brasil – se encontra no bairro do Ipiranga, às margens do córrego onde foi proclamada a Independência.

 

Não é o monumento à Independência e nem sequer o parque público que o rodeia. Fala-se do Museu Paulista, também conhecido popularmente como Museu do Ipiranga.

 

Uma aula de história pátria, sem arroubos excessivos, mas dentro de uma visão realística do nosso passado. Pobre e repleto de sacrifícios, onde gerações foram exigidas para vencer o clima tropical.

 

O Museu Paulista foi erguido, com grande esforço financeiro, quando das comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil. É prédio de arquitetura de gosto duvidoso.

 

Um exemplar que aponta a influência européia, especialmente italiana naqueles anos iniciais do Século XX. São Paulo conhecia os efeitos da grande imigração, com ela vieram valores culturais específicos.

 

Representa, pois, o Museu Paulista diversos cenários: a independência, os valores transferidos pela imigração e o denodo de nossos antepassados para erguer edifício tão avantajado para a época.

 

Foi edificado o prédio do Museu com os recursos existentes na época. Certamente deficientes e precários. Sem qualquer preservação cuidadosa, o prédio deteriorou-se.

 

A ala à direita de sua fachada sofreu afundamento do solo. As instalações tiveram que ser fechadas à visitação. O acervo recolhido a espaço considerado seguro.

 

Ocorre que, após o fechamento, não se tem notícia de qualquer ato apontado para o início da restauração de tão importante patrimônio da nacionalidade.

 

Dentro de oito anos, ocorrerá o bicentenário da Independência do Brasil. Não se ouve, porém, nem uma voz em defesa da pronta recuperação de imóvel tombado.

 

A Universidade de São Paulo, titular do museu, proclama crise financeira. Tem outras preocupações. O Ministério da Cultura patrocina espetáculos diversos e nem sempre qualificados.

 

O governo de São Paulo fecha os olhos para tema afeto a mais importante universidade do Estado. Todos silenciam. Não há uma só voz de protesto. Um ato de efetiva preocupação pela História.

 

As autoridades estão mais interessadas em correr atrás da bola – é tempo de Copa do Mundo – e pouco se preocupam em preservar o que importa efetivamente.

 

Triste é conviver com tanto descaso. A restauração deveria ser iniciada desde logo. Ou vão deixar para última hora? Tal como ocorreu com os estádios de futebol.

 

A FIFA mereceu toda consideração dos governos. Isenções desmedidas de impostos. Benefícios impressionantes. Abertura de brechas em legislação consolidada.

 

Pedro I e seu museu não importam. A Independência política nada vale. É transferida, sem qualquer pudor, a um organismo de futebol condenado publicamente por atos não recomendados.

 

Vai Brasil. Ladeira abaixo!

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