NACIONALIDADE


A chamada intelectualidade, nos últimos anos, tem debatido um tema em profundo antagonismo.

Cláudio Lembo

Trata-se do conceito de nação.

O pensamento marxista sempre entendeu a humanidade – leia-se o proletário – como um só e, por consequência, não podia conhecer os limites dos estados-nações.

Com a derrocada da União Soviética, uma nova onda de pensamento invadiu todos os quadrantes das múltiplas sociedades.

O capital financeiro impôs as suas regras e estas não podem conhecer obstáculos.

Agem, incessantemente, para eliminar as barreiras impostas pelos estados-nacionais.

Apesar dos esforços dos dois ismos – comunismo e capitalismo – os povos, no entanto, continuam com seus atributos históricos.

A língua, os mitos, os ritos, imagens e a memória coletiva conjungam dialeticamente o passado e o presente, formando um amálgama de valores e sentimentos.

A isto chama-se nação e esta é repositório de nossa consciência coletiva.

Abdicar deste valor é caminho da perda da personalidade social.

Uma rápida análise dos recentes episódios  ocorridos, no Brasil,aponta para uma dramática perda de identidade nacional.

A brasilidade –  com seu traço marcante –  perde coloração. Modismos importados invadem nosso cotidiano.

Os meios de comunicação – inclusive as televisões públicas e governamentais – comumente não se atêm às características de nossa gente e de seus costumes.

Importam uma parafernália de novidades e atividades que nada têm em comum com as raízes nativas e seus atributos.

Os últimos anos, particularmente, em virtude das operações saneadoras desenvolvidas por alguns setores públicos, a perda do sentimento de pertencer a coletividade comum se esmaeceu.

Ficou claro que existente dois brasis. O Brasil dos aventureiros e corruptos e o Brasil das imensas camadas que honestamente trabalham e constróem.

Espera-se que, uma vez vencido o terremoto moral que se abateu sobre todos, a sociedade volte a rever suas tradições e práticas históricas.

A sociedade brasileira – salvo bolsões – sempre  mostrou singeleza em suas práticas diuturnas.

Os antigos visitantes e os inventários setecentistas de São Paulo apontam para uma vida espartana, sem luxo ou ostentação.

As famílias ricas portavam-se asceticamente. Nada além do necessário para viver.

O sertão educou para a necessidade de  sobriedade.

Tudo isto se foi.

Os novos ricos se impuseram e achincalharam a simplicidade dos nossos antepassados.

Ora, uma sociedade deve preservar suas formas de vida naquilo que é essencial e abdicar do importado por mera ostentação.

Pecou-se – e muito – nestes últimos anos. Os cárceres estão repletos de facínoras transmudados em empresários.

Eles não representam a verdadeira coletividade com seus valores e tradições. São arrivistas de moral depravada.

Conspurcaram a preciosa forma de viver dos velhos brasileiros.

É tempo de recuperar valores. Afastar os maus do convívio social, mediante a aplicação de penas por meio do devido processo legal.

Poderá se voltar – quando a tempestade moral amainar – a pensar no Brasil de suas melhores tradições e de suas figuras símbolos.

Irá, então, se constatar que é possível ser autenticamente nacional sem se abdicar do bom relacionamento com outros povos e estados-nacionais.

É uma falácia negar-se a existência de nações com registros próprios e que estes não devam ser preservado em favor de um falso internacionalismo.

Este só interessa, como é vendido, aos financistas dos países centrais.

O Brasil precisa voltar a ser Brasil. Tem lições a oferecer aos demais estados-nacionais.

É só rever  as figuras símbolos de seu passado.

E, mesmo que piegas, exaltar esta palavra repleta de subjetividade:  Pátria.

Ela indica o país onde se nasceu e a quem se deve lealdade por mais obsoleto que possa parecer este sentimento.

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