MICHELAS*


“El mando engorda**

 

 

Em momentos tão amargos, como os ora presenciados, breve retrospectiva da História é oportuna.

Cabe recordar episódios fundantes do Estado nacional.

Ele indicará que os maus sempre agem.

A obra dos bons permanece, porém.

Pode parecer falso otimismo.

Sempre após a tempestade vem a bonança.

Não será diferente na atualidade.

Lá, nos idos de 1822,confrontaram-se vontades.

Poucos demonstraram grande dedicação à causa.

No caso, a Independência.

Destacam-se José Bonifácio de Andrade e Silva, de gênio forte, e a culta Princesa Leopoldina.

Agiram denodadamente, sem qualquer desejo de retribuição.

Queriam a soberania do País.

Foram de grande dedicação.

Conheceram a hostilidade de adversários.

A incipiente imprensa teve papel preponderante.

Panfletos e pasquins atormentavam o defensor principal da Independência.

José Bonifácio nunca se apequenou.

Sofreu ataques.

Lutou contra a prepotência de adversários.

Entre seus piores opoentes, uma traficante de interesses privados se colocou.

Domitila, favorita de D. Pedro, useira e vezeira na prática do mal lobismo.

Amealhou grande fortuna.

Obrou diabruras contra os autores intelectuais da Independência.

José Bonifácio venceu a favorita, como prêmio conheceu o exílio.

Na História, no entanto, recebeu lugar significativo.

A Domitila, amealhadora de dinheiro, permanece subalterna.

Lembra a maioria dos políticos contemporâneos.

É recordada por adjetivo vulgar e em desuso:

michela.

Hoje, políticos transformam-se michelas de empresários.

Vendem a consciência.

Recebem propinas pelas artimanhas praticadas.

Ninguém com a idoneidade de José Bonifácio.

Apenas  michelas, mercadores de consciências.

Assumiram mandatos legislativos.

Não representam o eleitorado.

Tornaram-se meros traficantes de interesses escusos.

A Brasília oficial transformou-se em casa de bandalhos.

Tristemente recheado da fina flor da cafajestada.

Não se convive com uma michela, como no nascer do Império.

São centenas.

O Congresso Nacional, um mercado de negócios escusos.

Vendas à retalho ou por atacado.

Bons exemplos históricos nada valem.

Só resta o vulgarismo.

Nenhum estadista.

Insuportável.

 

 

 

 

Referências

*   Vide em Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa ou Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

Vocábulo não registrado no Dicionário da     Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa.

 

**        Díaz, José Luis Gonzáles – Dichos y Proverbios – Edimat Libros– 2013 – Madrid.

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