LUTERO, MUITOS ÂNGULOS


Lutero … el gran animador cultural de los alemanes.*

 

 

Donatella Di Cesare, docente de Filosofia da Universidade Sapienza de Roma, publicou livro repleto de temas para reflexões.

“Heidegger e gli ebrei” é o título da estimulante obra da professora italiana.

Ela tem um escopo específico:

A análise da obra de Heidegger e esmiuçar sua visão sobre os judeus.

Para atingir seu objetivo, a autora percorre inúmeras obras de pensadores alemães.

Analisa suas posições face aos judeus.

Constata, então, que a posição contrária aos hebreus se encontra inserida no pensamento dos mais acatados filósofos alemães.

É uma constante.

Quando Donatella Di Cesare chega a Lutero, recolhe um forte posicionamento contra os judeus.

Na região de Turíngia, onde vivia o reformador, os judeus já não se instalavam.

Foram expulsos sob o pretexto do  envenenamento das águas das fontes.

O tempo era milenarista.

A América fora descoberta e seus povos, uns após outros, segundo informações que chegavam à Europa, convertiam-se ao cristianismo.

Com a unanimidade cristã que se anunciava, esperava-se o fim do tempos.

Restavam os judeus.

Não se convertiam.

Lutero mostrava-se perplexo.

Desejava a conversão de toda a humanidade.

Escreveu, com este fim, em 1523, um documento convocando os judeus à conversão:

Jesus Cristo nasceu judeu.

Não obteve sucesso.

Revoltou-se.

Redigiu, neste passo, um panfleto cujo título indica seu conteúdo:

Dos hebreus e de suas mentiras.

Corria o ano de 1543.

Ainda inconformado com a não conversão dos judeus, prosseguiu o Reformador em sua caminhada.

Examinou as interpretações da Bíblia pelos sábios talmúdicos.

Nelas encontra o que atribuiu serem mentiras.

Não admitiu interpretações infinitamente abertas.

O pior equívoco dos judeus, segundo Lutero, seria a concepção de serem originários de uma estirpe superior.

Este pensamento, segundo Donatella, levou ao aparecimento do racismo.

O Reformador, revoltado com a não-conversão dos judeus, avançou por caminhos verbais tortuosos.

Estes, posteriormente, foram adotados pelos nazistas.

É bom recordar, como faz a professora da Sapienza, que em Nuremberg, em abril de 1946, Julius Strecher, editor do jornal nazista “Der Sturmer”, ao ser interrogado respondeu:

“O Doutor Martin Lutero deveria estar hoje no meu lugar”

Todas estas lembranças arroladas pela professora apontam para preocupantes constatações.

O pensamento dos mais eminentes autores sempre se encontra inserido no contexto cultural em que vivem.

As obras renomadas do pensamento humano precisam ser relativizadas a partir do contexto histórico em que foram produzidas.

Compreender que Lutero imaginava a reforma dos costumes religiosos em seus dois tempos, ou seja, os de ambos os Testamentos é relevante.

É, ainda, importante recolher as posições arroladas pela professora Donatella Di Cesare sobre os pensadores alemães em geral.

Mostram uma amarga coerência.

A fixação, porém, sob Lutero é oportuna.

Este ano se comemoram os quinhentos anos da edição das famosas 95 teses que iniciaram a Reforma Religiosa.

Elas deveriam alcançar, segundo o Reformador, todos os povos no interior da cristandade e além desta.

Lutero, figura central da História alemã, merece estudo sobre todos os ângulos, inclusive, portanto, naquele de sua visão a respeito dos judeus.

Nada pode ser esquecido.

Sua importância é relevante no pensamento ocidental.

Lutero é o moderno fautor da liberdade interior, gênio que plasmou a língua alemã, símbolo da identidade tedesca, como registra Donatella Di Cesare.

Seu pensamento alterou costumes e valores.

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Donatella Di Cesare

Heidegger e gliebrei

BollatiBoringhieri editore

Primeira reimpressão  dezembro  2014

*Hans Küng – El Cristianismo – Essencia e História

Editorial Trotta – Madrid – 1997

 

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