LIÇÃO DAS RUAS


É impressionante. O povo brasileiro não se abate. A depressão econômica. A dengue. O Zica. E o que mais vier.

Nada abate a comunidade. Todos os analistas imaginam um Carnaval sem vibração. Ou repleto de violência.

Enganaram-se duplamente. Há um grande vazio entre a sociedade real e os comentaristas econômicos ou políticos.

Estes últimos freqüentam os escritórios confortáveis de grandes empresários e jamais chegam ao pequeno empresário.

Aquele que dá milhares de empregos e trabalha de sol a sol, muitas vezes em mutirão familiar. Nada de sofisticações.

Ou de análises econômicas. A sociedade, em sua base, sobrevive graças à imaginação e ao esforço hercúleo de seus membros.

O rentistas estão perplexos. Querem juros mais altos. Mostram-se fragilizados quando as taxas são mantidas.

Querem mais. São insaciáveis. Forazes. Quando procurados pelos analistas de mercado, falam horrores.

Gostavam dos tempos do dólar a um real. Lembram-se? Podiam viajar tranquilamente para os países centrais.

Pouco importava que a dívida do Brasil perante o FMI avolumava. Eles estavam bem. A grande maioria que se dane.

Os tempos mudaram. A busca do fim da miséria endêmica importunou muitos bem vividos. A fome nunca bateu em suas portas.

Jamais entrou porta a dentro de seus lares. Os outros não importam. Só quem viveu os meandros da governança sabe como são vorazes os bem postos na vida.

Tudo é deles. Tudo é para eles. A grande sociedade, com suas imensas dificuldades, é problema para os governantes.

Acontece que não é bem assim. Todo o integrante de uma coletividade tem responsabilidade pelo todo. Não há ninguém isento.

Todos precisam colaborar e ter consciência de sua parcela de responsabilidade. Não há na cidadania democrática ninguém superior.

De acordo com suas possibilidades, todos devem colaborar para que a sociedade seja justa. Já não se quer uma sociedade plenamente igualitária.

Mas a profunda desigualdade leva à revolta. Aos conflitos sociais. À violência indiscriminada. Só a tranquilidade social pode levar ao desenvolvimento.

O Carnaval, como festa popular, mostrou que não há – felizmente – no País clima de violência. Todos querem viver em paz e solidariamente.

Os três dias de Carnaval conferiram um precioso exemplo aos políticos. Deve haver diálogo. Assim quer a sociedade. Paz.

Assim deverá ser no após Carnaval. Espera-se que os parlamentares, em Brasília, recolham a lição vinda das ruas.

Ou os parlamentares são todos de outro mundo.

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