JOAQUIM E A VERDADE


Joaquim Barbosa, o polêmico presidente do Supremo Tribunal Federal, costuma ver a sociedade brasileira com olhos sensíveis. Observa tudo e aponta as grandes complexidades existentes.

Foi assim durante o julgamento do Mensalão. Não se curvou e não mostrou temores infundados. Conduziu a Corte à uma decisão extremamente extravagante. Rompeu paradigmas seculares.

Ele tem razão quando se refere a advogados poderosos com livre trânsito entre tribunais. Muitos juízes – não são todos, felizmente – aceitam favores estranhos de causídicos inescrupulosos.

Apartamentos situados em praias ou em cidades do exterior são oferecidos para fins de semana repletos de benesses e muita promiscuidade entre advogados e magistrados superiores.

Claro que estas ofertas, em si, não contêm nada de anormal. Patológicas são as consequências. Onde há intimidade, perde-se a respeitabilidade. Nada importaria se tudo se mantivesse na esfera privada.

As consequências, contudo, se refletem nos autos de processos e nas decisões finais, onde amizade se sobrepõe à Justiça. Barbosa, livre das amaras da bajulação, coloca o dedo na ferida.

Todos ficam surpresos. Há, porém, a necessidade de alguém falar fora da pauta imposta pelos chamados “bons modos”. Já é tempo de nossa sociedade se liberta das práticas hipócritas.

A verdade, por mais cadente que se apresente, é melhor que o mundo de fantasia a que estamos acostumados. Um minueto cínico onde o povo leva sempre a pior.

A elite – a elite branca como alguém já disse – precisa se reciclar para novos tempos, onde a liberdade coloca tudo às claras. Inexistem privilégios em uma autêntica república.

Fomos educados, em nossas escolas, a dividir a sociedade. É da tradição ibérica, separar aqueles que têm sangue limpo e os demais. Já é tempo de alterar os suportes básicos deste pensamento da minoria.

Uma sociedade para evoluir exige respeito a todas as concepções filosóficas e a todas as etnias. Separar as pessoas por raças é diabólico. Permitir vantagens indecorosas para alguns é imoral.

Joaquim Barbosa, com autenticidade, em sua passagem pela presidência do Supremo Tribunal Federal, deixará um legado de valor inestimável. Disse o que muitos, sem possibilidades, gostariam de falar.

Os políticos tradicionais – de formação ortodoxa – não gostam da verdade e nunca apontam para o que vêm. São vendedores de ilusões. Criam falsas esperanças.

É oportuno, pois, que, por vezes, surjam figuras destemidas que indiquem as mazelas existentes em nossa comunidade nacional. Só assim poderá se atingir, após as crises, uma catarse plena.

Ele, o presidente do Supremo Tribunal Federal, lá na Costa Rica, falou sobre tema angustiante do momento nacional. A concentração excessiva dos meios de comunicação.

Claro que, aqui, existem contingências econômicas. O custo industrial da confecção de um jornal é altíssimo. Possui um componente artesanal – as redações – e um de produção física – as gráficas e a distribuição.

Na verdade faltam, no Brasil, jornais de combate, onde ideias são expostas e gerem polêmicas. Os partidos políticos, com o fundo partidário, dinheiro público, poderiam criar bons órgãos de imprensa.

Joaquim Barbosa é um estranho no ninho e, por isto, suas palavras alcançam repercussão. Será criticado, em pequenos comitês, mas certamente presta bom serviço para a verdade.

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