INSUPORTÁVEL


Nada mais exaustivo que uma campanha eleitoral. A cidadania se mantém perplexa perante tantas informações desencontradas. Debates sem oração principal.

 

Alguns andam pelas ruas coletando assinatura para a instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte específica para a realização de uma reforma eleitoral.

 

Não existe a possibilidade de uma Constituinte exclusiva. Ela, caso convocada, terá competência para a alteração de qualquer tema constitucional.

 

Não pode se circunscrever apenas a assuntos eleitorais. Ainda por que os problemas existentes na sociedade brasileira não se encontram nos mecanismos eleitorais.

 

Eles estão presentes na má qualidade da representação política. Na fragilidade orgânica dos partidos e conseqüente má escolha dos candidatos.

 

Não há por parte das agremiações nenhuma preocupação com a implantação de uma escala de valores morais. Vale tudo em matéria ética. Um horror.

 

Não se formam gestores dos negócios públicos. As campanhas são vazias exposições dos figurantes. Nenhuma idéia concreta sobre a arte e a ciência de governar.

 

Os mesmos erros corriqueiros quando da redemocratização se repetem depois de tantos anos de plenitude da liberdade. Os lideres se mostram vazios e novas personalidades não surgem. São sempre os mesmos.

 

A desmoralização do processo eleitoral parece ser proposital. É possível que alguns atores desejam uma quebra da democracia. A tratam tão mal. Só pode ser proposital.

 

Os programas dos inúmeros partidos – são trinta e dois – se parecem ou repetem velhos chavões do passado. É melancólico constatar que, após tantos fracassos, ainda existam tantos partidos extremistas no Brasil.

 

Há para todos os gostos. Só que atuam de maneira superficial. Tomam de antigos chavões e os repetem enfadonhamente. É um pandemônio da pior espécie.

 

O observador estrangeiro deve ficar perplexo perante o que vê neste País tropical. Parece um museu de antropologia. As mais superadas idéias-forças se encontram ativas no panorama pátrio.

 

Que lastima. Os partidos transformaram em pequenos balcões – salvo exceções raras – onde se fala de tudo, salvo do fundamental: a solução efetiva das questões existentes nas comunidades.

 

As direções partidárias não fiscalizam seus candidatos aos parlamentos e a apresentação destes, no rádio e na televisão, por vezes, torna-se hilariante.

 

Hilariante, porém trágico. As candidaturas expostas pretendem dirigir o Estado e o País. Não se mostram preparadas para tanto. Certamente, teriam mais sucesso em um picadeiro.

 

Já se disse que o brasileiro nasce, abre os olhos, vê a natureza em festa, pensa que esta em um circo e torna-se um palhaço. Isto pode valer para alguns. A grande maioria da população se revolta.

 

Há uma canseira cívica no ar. O eleitor consciente se acha ultrajado. Amargurado. Já não sabe a quem recorrer. Perdeu a esperança nos partidos.

 

Este é o risco. A sociedade está à beira do precipício. Vai decaindo a cada dia como sociedade civilizada. Os partidos precisam ser contidos na volúpia de poder e na ação caricata de seus membros.

 

Não dá para suportar o insuportável.

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