FRANCISCO DE BUENOS AIRES


Francisco chega ao Brasil em sua primeira viagem internacional. Volta ao seu continente de origem. Há inúmeros significados nesta visita. Uma deferência à grande comunidade católica do país.

Um retorno ao continente formado – para o bem ou para o mal – durante séculos, particularmente pelos jesuítas. A Ordem aportou, por aqui, no ano de 1549 e foi incansável na atividade catequética.

A Europa acabara de conhecer a ruptura da cristandade pelo surgimento da Reforma. A unidade, até então existente, passava a se fragmentar e a dar origem a episódios de profunda violência.

Estes acontecimentos chegaram às costas brasileiras com a presença de franceses e holandeses – então chamados de hereges pelos ibéricos – em invasões ocorridas em diversos pontos da América portuguesa.

Os jesuítas foram indomáveis nas lutas contra os invasores. Apoiaram o governo português, na defesa da integridade do território, de todas as formas. Suportavam-se na fé e nos princípios tridentinos.

Capazes de dialogar com os índios, os jesuítas os transformaram em aliados dos colonizadores portugueses ao disporem de inúmeras tribos nos combates contra os invasores.

Cabe à academia examinar com olhos isentos os episódios dos primórdios da presença dos jesuítas no Brasil. Certamente, eles são partícipes da grande saga em que consiste a unidade territorial brasileira.

O Brasil poderia ter merecido uma inglória divisão entre múltiplas nacionalidades e certamente alguns dos bons traços de nossa sociedade atual não estariam presentes em nossos costumes.

Os franceses foram colonizadores rudes e os holandeses acompanharam aqueles com a mesma capacidade de criar diferenças entre as pessoas e formar guetos sociais indesejáveis.

A luta dos missionários jesuítas em defesa da dignidade dos índios é edificante, apesar da violência, própria do choque de culturas, contra os usos e costumes dos nativos.

Mas, voltando à atualidade, é propício o instante em que Francisco, o primeiro papa jesuíta, chega ao Rio de Janeiro. Ele irá encontrar uma comunidade sensibilizada por movimentos populares.

Um inconformismo profundo atinge a todas as pessoas e à coletividade. Em momentos como o presente, palavras de uma personalidade de perfil humanístico são altamente salutares.

Só se ouve tolices nos tempos que passam. Apenas opiniões e projetos estapafúrdios são colocados na mídia. Uma mensagem de confiança e respeito mútuo entre as pessoas é bem vinda.

Francisco, em sua primeira viagem no interior da Itália, foi à Ilha de Lanpedusa, o ponto europeu mais próximo da África e, por esta posição geográfica, local de tragédias humanas propiciadas por imigrantes clandestinos.

Agora, chega ao continente sul americano, espaço de grandes tormentas sociais e desenfreado desamor ao outro. Os habitantes desta América sofreram todas as formas de opressões.

As ditaduras violentas impostas por Estados imperialistas. A escravidão levou as mais dramáticas situações de constrangimento humano. Violências nas cidades e nos campos.

Minorias sempre dominaram as sociedades deste sul amargo e explorado. O momento do coletivo se expressar chegou. Palavras de aconselhamento são necessárias.

É o que se espera de Francisco, filho de uma cidade repleta de desigualdades, onde os deslocamentos humanos ergueram vilas misérias ao lado das mansões do patriciado.

A América do Sul precisa de palavras de conforto e esperança. Francisco chega em boa hora. Um pregador vai bem no interior do deserto de valores que se vive atualmente, sem ressalva para o próprio Vaticano.

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