ESCOLHA O SEU


Determinados temas ingressam e se afastam da pauta jornalística, em ciclos descontínuos. Permanecem-se, porém, sempre subjacentes. Entre estes, em cada temporada, um merece mil formulações. Todas coerentes.

Quando parlamentares discutem o tema, o debate se acalora. Não chegam jamais ao consenso. Em mesa de bar, cada interlocutor levanta sua opinião e, nem depois da saideira, elas convergem.

O assunto tão polêmico?

A reforma política. Existe quem defenda o modelo alemão. Repousa em dois votos: no candidato e outro no partido. O primeiro pessoal e subordinado à técnica majoritária. O segundo voto conferido à legenda, apurado pela forma proporcional.

Logo alguém levanta a fórmula espanhola. O voto de lista fechada. Vale o candidato de maior prestígio partidário. As oligarquias se mantêm intocáveis. O tempo passa e elas ficam.

O último projeto de reforma partidária, lá na Câmara dos Deputados, propôs o voto em lista fechada, utilizando o sistema proporcional. A iniciativa, no entanto, foi arquivada. Levantou-se obstáculo regimental.

Há outra vertente no debate. O financiamento das campanhas. Ainda aqui cada um tem sua razão. Dinheiro público leva a uma aparente igualdade entre os candidatos concorrentes. Dinheiro privado não onera a cidadania.

E candidaturas independentes? Os competidores podem fugir das amarras partidárias e suas máquinas de dominação. O individualismo das candidaturas independentes não forma agremiações sólidas. Contestam.

Caleidoscópio infinito. Nunca se chegará à posição que atinja os objetivos cívicos ou pessoais de cada contendor. O melhor? Deixar como está. O sistema eleitoral tem história. Possibilitou avanços na representação popular.

Ainda mais. Cada sociedade deve captar e aperfeiçoar os institutos conforme sua própria identidade e tradições. Um mecanismo, com quase cem anos, já foi testado e se adaptou à sensibilidade cidadã brasileira.

Agora, porém, surge uma novidade entre os partidos políticos. Genial. Diferente. Cada agremiação poderá contar com um novo instrumento para conquistar adeptos na medida do figurino de seus militantes.

Em grande lançamento, o Partido dos Socialistas da Catalunha ofereceu aos seus filiados a possibilidade de usar água de colônia com as fragrâncias alusivas aos propósitos doutrinários.

O perfume socialista conta com as fragrâncias próprias dos objetivos da agremiação: confiança, igualdade, progresso e eficácia (sic). Complicado. Muitos aromas para um só partido.

Os marqueteiros nacionais, tão sensíveis e atilados, no futuro pleito municipal, certamente recorrerão ao novo recurso. Um cheiro peculiar para cada partido e candidato.

O PSDB, com seu conhecido internacionalismo, se reportará a Paris. Lá, na Cidade Luz, escolherá o melhor aroma do socialismo déjà vu. Fino. Discreto. Aristocrático.

O DEM optará por algo local. Ingredientes recolhidos na flora nativa. Difícil escolher a região de origem da essência. Antes um partido tipicamente nordestino, poderá optar pela flora do centro-oeste.

O PTB, partido dos trabalhadores urbanos, terá que percorrer as lojas especializadas. São tantas. Em São Paulo, há rua específica do setor. Oferece todas as essências.

O PDT voltará às suas origens. Lá, nos Pampas, nas cuias de chimarão recolherá perfume forte. Próprio para pugnas. Ou, nas churrascadas ricas de prendas e peões.

Imensos problemas enfrentarão os marqueteiros do PT. Depois do mensalão, escolher aroma para a agremiação será difícil. Aos publicitários a indagação: Aroma sutil ou odor agridoce?

Os novos partidos escolherão fragrâncias voláteis. Mutáveis como a identidade partidária de seus integrantes. Trânsfugas contumazes, sempre em mudança na busca da legenda mais propícia.

É melhor que não se adote o novo instrumento de comunicação. As confusões estão no horizonte. O prazer do olfato pode se transformar em exercício desagradável. Até repugnante.

Os partidos estão esgotados. Incapazes de conceber políticas públicas. Aqui e no exterior. Lançam-se em expedientes superficiais. Esquecem as lutas de seus antepassados. Não prevêem o futuro.

Pela frente, só riscos. É bom parar com a imaginação excessiva. Acaba em chalaça. Descrédito geral.

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Em tempo: A Escola de Samba Rosa de Ouro lançará o perfume: Rosaessência – “O Eterno Aroma”, durante seu desfile no Sambódromo paulista.

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