EPISÓDIO LAMENTÁVEL


A velocidade da distribuição das notícias não permite o conhecimento de todos os temas divulgados. O mais atento dos observadores perde-se no meio do intenso noticiário.

Toma-se conhecimento dos resultados de jogos esportivos os mais diversos. Capta-se informações a respeito de acontecimentos internacionais. Recolhe-se o sofrimento da Síria. Fala-se sobre a Primavera Árabe, ora em pleno inverno.
Acompanha-se o desenvolver da campanha eleitoral nos Estados Unidos. Sabe-se que em São Paulo – e em todo o Brasil – ocorrerão eleições municipais em outubro próximo.
É um verdadeiro caleidoscópio de notícias. A profusão de informações faz com que algumas notas não sejam conhecidas pelo mais atento dos leitores. Saem em pequenos espaços, quase despercebidos.
Uma destas notícias, perdida no universo de noticiário, cria um sentimento de angústia e emoção. Ela vem do Japão. Naquele conjunto de mil e quarenta ilhas aconteceu fato amargo para os brasileiros.
Os japoneses caracterizam-se por um povo homogêneo. Originam-se de antigas populações mongóis. Esta uniformidade racial rompeu-se muito superficialmente, após vários episódios de sua História.
Hoje, coreanos, chineses e brasileiros formam parcela do contingente populacional do Japão. São minorias destinadas a trabalhos pesados e desgastantes. À limpeza pública ou outras atividades braçais.
Os japoneses, ao longo dos séculos, sempre se mostraram refratários aos estrangeiros. Os primeiros europeus chegados às ilhas foram os portugueses.
Estes se estabeleceram, no arquipélago, por cerca de sete anos. Foram expulsos. Este povo, com fortes traços de nacionalismo, envolveu-se em várias guerras. Conheceu vitórias e profundas derrotas.
Chegaram os japoneses ao Brasil há mais de cem anos. Estabeleceram-se, particularmente, em São Paulo, onde desenvolveram atividades extremamente importantes.
Lançaram-se firmemente na agricultura. Edificaram indústrias em várias cidades paulistas. Deslocaram-se para o Paraná e muitos criaram colônias na Amazônia, onde plantaram pimenta.
Com a crise econômica do Brasil, nos anos oitenta, e a necessidade de mão de obra no Japão, os descendentes dos imigrantes japoneses imigraram para o país de seus ascendentes.
Muitos niseis – filhos de pais japoneses – após estada no Japão retornaram ao Brasil. Muitos outros, no entanto, quedaram-se por lá. São estes que, agora, sofrem forte desconforto.
Jornal editado em português, lá no Japão, publicou anunciou da empresa responsável pela remoção do entulho e lixo tóxico, no entorno da usina atômica de Fukushima, convocando brasileiros.
A empresa oferecia um salário de R$ 750,00 por duas horas de trabalho diário. Não fazia nenhuma ressalva sobre os riscos que os trabalhadores sofreriam ao se dedicarem à retirada do lixo atômico.
Um horror. Brasileiros tratados como pessoas descartáveis. Felizmente, a Embaixada do Brasil, em Tókio, agiu com firmeza e responsabilidade. Praticou uma intervenção. As contratações foram suspensas.
Lamenta-se o sucedido. Já não bastassem as violências praticadas pelos espanhóis contra brasileiros em seu aeroporto de Barajas, temos agora esta agressão contra a integridade física de nacionais.
Registre-se a pronta ação das autoridades diplomáticas brasileiras. Atuaram como se espera da representação do País e na defesa de seus concidadãos.
As relações entre Brasil e Japão precisam permanecer elevadas e de recíproco respeito. O episódio, felizmente superado graças à ação das autoridades brasileiras, não pode se repetir.
Fere uma longa caminhada de recíproca solidariedade entre brasileiros e japoneses.
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