A temporada de caça começou. Não se trata do velho hábito de matar inocentes animais. Felizmente. A temporada que agora se inicia tem outro objetivo. Mais nobre.
Começou a temporada de caça ao voto. O voto distingue duplamente o cidadão. Torna-o participante ativo da vida pública e, a uma só vez, responsável pelo bom andamento dos assuntos governamentais.
Votar não é tão-somente digitar alguns números em um computador minúsculo como a mais simples das calculadoras. É praticar opções entre vários candidatos e programas partidários.
O voto conferido com consciência pode levar o Estado a bons rumos. O voto aventureiro – dado por interesse e sem meditação – conduz a coletividade ao sofrimento e à desesperança.
Parecem obviedades. Elas, contudo, são marginalizadas por grande porção do eleitorado ativo. O resultado: parlamentos medíocres e executivos muitas vezes compostos por escroques.
A corrida pela conquista do voto começou. Os pré candidatos a cargos eletivos já se movimentam. Aguardam as convenções partidárias. Os que buscam postos eletivos proporcionais criam pequenas esperanças.
Oferecem o céu na terra, se eleitos, no entanto, contarão com espaço para pequenos atos. Quase sempre carecem de força e dedicação para fiscalizarem a fundo o Executivo. Restam marginais.
Há exceções raras. Alguns parlamentares dedicam-se intensamente a boa consecução de seus mandatos. São poucos. Merecem respeito e atenção. Fácil acompanhá-los. As televisões públicas abrem espaços preciosos.
O mais estimulante – como acompanhar um jogo emocionante – é a eleição majoritária. Aquela em que governantes e senadores serão contemplados com mandatos eletivos.
Aqui é que exige atenção ainda maior da cidadania. Já é tempo de acompanhar as explanações dos futuros candidatos. Alguns procuram se omitir. Parecem fantasmas. Estão sempre escondidos.
Esperam os horários gratuitos do rádio e da televisão para aparecer e, ai, em monólogos aborrecidos, apontarem para suas qualidades e suas vidas passadas.
Outros – ao contrário – falam pelos cotovelos e agridem seus adversários com ou sem razão. São os boquirrotos. Respondem sem ser indagados. Encantam-se com suas próprias palavras.
A cidadania necessita ficar atenta. Seguir todos os candidatos – a cargos majoritários ou proporcionais – para medir o comportamento. A retidão mental. A veracidade de suas posições.
As democracias, por toda a parte, sofrem de uma enfermidade. O uso indiscriminado das várias formas de comunicação atomizou o conhecimento e fragilizou os juízos de valor.
Tudo parece possível e novo. Os marqueteiros desestabilizaram o mercado eleitoral. Tornaram o ato cívico em mera opção por um produto de aparência palatável.
O conteúdo não importa. Vale a mera aparência. Este o grande drama das modernas democracias. As idéias foram substituídas pelas formas. Tem mais possibilidade de vitória a boa aparência do que o bom caráter.
Vive-se há mais de vinte anos em uma democracia plena. A liberdade de expressão é ilimitada. O acesso aos meios de comunicação sem barreiras. Universal.
O que falta, então, para se atingir uma democracia digna? O eleitor tomar consciência de sua importância. Deixar de acompanhar figuras meramente carismáticas ou produtos de sistemas oligárquicos de qualquer natureza.
A par desta constatação, resta também crítica aos partidos políticos. Os seus órgãos dirigentes devem escolher bons candidatos. Não é o mero catador de votos que merece vaga nas chapas.
Estes, por vezes, possuem passado duvidoso e formas vulgares de captar votos. Aos partidos se exige mais atenção na formação de suas listas. Cabe-lhes o forte papel de recolher bons cidadãos.
Parecem ingenuidades de um utópico. É possível. As agremiações partidárias continuam agindo da mesma maneira. Os candidatos a operam como sempre o fizeram.
Resta a esperança. Esta se consubstancia nos eleitores. Poderão alterar os costumes políticos. Transformar uma democracia com pontos de fragilidade no melhor dos regimes.