ELEIÇÕES ITALIANAS: A VITÓRIA DAS LIDERANÇAS


As eleições italianas permitem uma série de reflexões sobre temas políticos relevantes. Ainda porque existem semelhanças entre o panorama da Itália e o brasileiro.

Ambas as sociedades se mostram extremamente criativas e seus políticos nem sempre diferenciam o público do privado, apesar das ricas tradições republicanas herdadas pelos italianos de seus ascendentes romanos.

No último pleito, realizado após a queda do Gabinete Prodi, a prática eleitoral italiana sofreu alterações positivas. A primeira delas se constitui na opção, no plano partidário, pelo bipartidarismo.

Após a queda do socialismo real, a Itália concebeu um complexo quadro de partidos, onde inúmeras legendas se digladiavam e, ao final de cada pleito, o Congresso se transformava em um labirinto de homens e de partidos.

A legislação italiana adotou, contudo, em seu jogo eleitoral, a cláusula de barreira, impondo a obtenção de 4% de votos para um partido figurar no parlamento. Sabiamente o eleitorado se utilizou da barragem. Apenas dois partidos estarão efetivamente representados nas casas legislativas.

Aqui a primeira comparação útil. O Brasil atualmente conta com 28 partidos políticos. O Congresso Nacional adotou a cláusula de barreira, instrumento purificador de quadros partidários.

O Supremo Tribunal Federal, no entanto, julgou a cláusula inconstitucional sob o argumento de que este mecanismo afasta as minorias do interior das casas legislativas. É verdade.

Neste passo seria oportuno indagar: o que é mais nocivo? As minorias longe do parlamento ou a ingovernabilidade produzida pela ação dos partidos menores?

A resposta pode se apresentar difícil. É bom recordar, contudo, que emenda constitucional, aqui no Brasil, frisou ser a eficiência princípio da administração pública. Um cenário partidário racional conduz ao cumprimento desta exigência do artigo 37 da Constituição.

Outro ponto comum às duas sociedades é o descrédito das personalidades políticas. Os parlamentares são pouco admirados nos dois países. Uma série de fatores leva a esta situação.

Os parlamentares nem sempre se fazem respeitar. Utilizam-se da máquina pública com imensa desfaçatez. Aumentam seus vencimentos sem o menor controle externo. São senhores absolutos de seus atos.

Os meios de comunicação, a partir desta constatação, ampliam as peripécias concretizadas por senadores e deputados. São abusos de natureza financeira. Descaminhos sexuais. Desrespeito à representação popular.

A sociedade, particularmente a partir da mídia eletrônica, passa a conhecer atitudes e atos dos parlamentares. O efeito é catastrófico. Uma tragédia. Ninguém acredita em ninguém.

Isto leva à fragilização da democracia. Figuras da extrema direita iniciam pregações agressivas contra minorias, em especial estrangeiras. A xenofobia é o começo da caminhada para a implantação de regimes autoritários.

Com roupagens diferentes, também no Brasil começa caminhada à intolerância. No Rio de Janeiro, ação policial mereceu triste configuração: “inseticida social”. Grave prenúncio do que esta por vir.

As pessoas sensíveis se apercebem, desde logo, do risco de afirmações semelhantes. Devem merecer censura no nascedouro. Uma sociedade democrática não discrimina pessoas.

Aqui, um particular. Os lideres políticos italianos equacionaram um cenário complexo. Contaram com um atributo essencial. A capacidade de somar. Há personalidades políticas agregadoras. Conduzem as pessoas a trabalharem juntas sem diferenciá-las. Aconteceu na Itália.

Outras, porém, são personalidades desagregadoras. Podem ser brilhantes, mas não formam vínculos entre os diferentes. Ao contrário, distribuem rancor nos vários segmentos sociais.

Os capazes de somar são lideres aptos a gerar novos e sólidos partidos. Foi o que fizeram os dirigentes dos partidos “Il Popolo dela Libertà” e do Partido Democrático, independente do juízo que se tenha a respeito das pessoas.

Os disseminadores de discórdia destroem arquiteturas políticas elaboradas em longos anos de sacrifícios. Não edificam. Só tecem uma teia de conflitos e desconformidades.

São estes últimos os eternos seguidores do velho e conhecido Imperador Nero. Querem incendiar Roma novamente.

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