Eleições e a Reforma


Há ondas que vão e que voltam nos meios de comunicação.legado-da-reforma

A onda presente – retorna a cada dois anos – rompe com formidável estrondo na análise dos resultados das eleições municipais.

Todas as hipóteses são examinadas para aquilatar as motivações do eleitor ao depositar sua vontade nas urnas.

As mais variadas hipóteses foram oferecidas para captar a vontade das urnas.

O cansaço com a farsa esquerdista encenada há anos pelo Partido dos Trabalhadores.

Esta agremiação, gerada nos sindicatos do ABC, em setores da Igreja Católica e em segmentos tidos como intelectuais, frustrou esperanças.

Esta é a primeira conclusão direta dos resultados.

Mas, é pouco.

Outros fatores contribuíram para a manifestação- protesto dos eleitores.

Alteraram-se as formas de comunicação social.

A internet deu liberdade às pessoas. Constituiu tribos isoladas. Não se comunicam entre si.

Isto levou ao rompimento da hegemonia exercida pelo rádio e, particularmente, pela televisão.

Houve época em que o rádio promovia candidatos. Foi superada.

Depois, a televisão tornou-se hegemônica. Um jornal televisivo gerava fatos e correntes de opinião.

Hoje, graças à Internet, não existem mais hegemonias.

Tudo se tornou movediço, inclusive candidaturas e programas partidários.

A internet permitiu a cada cidadão ser senhor de sua vontade e expressar – sem censores – a sua opinião.

A imprensa, por sua vez, perdeu seu papel de condutora de opiniões. Fragilizou-se.

Parece trivial.

É, no entanto, uma revolução de comportamento que ainda não atingiu seu ápice.

Vai demorar algum tempo.

Os indicados são elementos visíveis e sentidos por todos os cidadãos, mesmo pelos menos envolvidos em temas públicos.

Um fator, contudo, mais profundo e pouco analisado, salvo com traços de preconceito, é o correspondente à religião.

A sociedade brasileira – e de toda a América Latina – conviveu durante séculos com uma única religião de natureza oficial.

Os cultos das demais confissões ou eram proibidos ou apenas permitidos em recintos fechados, sem qualquer aparência externa indicativa de sua finalidade.

Uma única religião.

Uma hegemonia absoluta.

A discordância era apenada com rigor.

Nos últimos cinquenta anos, uma nova onda religiosa invadiu a sociedade.

Múltiplas confissões se instalaram.

Algumas, a partir de ramos históricos da Reforma, outras originárias de figurantes nativos imbuídos de pensamento reformado.

Esta nova realidade religiosa alterou o comportamento do eleitorado.

Este foi em busca de condicionantes espirituais que falassem ao seu cotidiano.

Alterou-se a visão do mundo como um eterno mar de lágrimas.

Passou-se a conceber o mundo como um lugar para honrar a Deus pelas obras.

Vai longe aquele registro de Stendhal, aplicável a nossa realidade, sobre os costumes em Milão do Século XVIII.

Aponta o escritor:

“ … predicavam ao bom povo milanês que aprender a ler e fazer qualquer coisa no mundo era inútil … para se obter um posto no paraíso.”

Exatamente ao contrário do que pregava o reformador Lutero em seu discurso ao prefeito de Nuremberg, no ano de 1530.

Dizia o agostiniano, pai  da Reforma:

“A ausência das crianças à escola é pensamento do diabo que, na sua astúcia, afirma não ser necessário gente instruída, mas apenas gente que pensa em comer …  “

Talvez estas duas mundovisões é que se encontram em choque, no Brasil, na atualidade.

O cenário das ideias religiosas tornou-se competitivo e este acontecimento se refletiu no espaço político.

Com grande atraso, o conteúdo da Reforma atingiu a nossa sociedade.

Acontece na contemporaneidade.

Trata-se de uma mudança colossal de valores e costumes.

Uma sociedade acostumada em obter o perdão passou a enfrentar a necessidade de construir para honrar a Deus pelas obras.

Só obras, grandes ou modestas, apontam para a salvação futura e indicam a presença da predestinação em cada pessoa e nas respectivas existências.

Uma diferença imensa.

Já não se buscam os candidatos dos coitadinhos, mas sim os representantes dos que constroem.

É óbvio que esta mudança altera significativamente os valores sociais.

Avança para cenários antes desconhecidos do cidadão médio.

É preciso ainda conviver com o tempo futuro para se conhecer os desafios impostos por esta nova forma de encarar o mundo.

Uma certeza desponta, contudo.

Já não existem mais hegemonias.

A sociedade tornou-se complexa e exige novos comportamentos.

O coitadinho ficou no passado.

Agora, é preciso lutar e aprender para demonstrar ter sido escolhido por uma Vontade Superior.

Como toda alteração de rota, ainda não se pode antever as consequências.

Mas, já se capta a mudança nos resultados eleitorais.

Basta ver a vontade das urnas.

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