DUAS REALIDADES: JUSTIÇA E POLÍTICA


Os assuntos são muitos. Na política e na Justiça. Ambas – Justiça e política – incidem sobre nossas vidas de maneira significativa. Alteram os rumos postos e os objetivos individuais de cada pessoa.

Se assim é, cabe acompanhar com assiduidade o desenvolvimento do jogo político e os posicionamentos do Poder Judiciário. A política é movediça, especialmente em uma sociedade sem ideologias definidas.

Os partidos políticos, aglomerados sem definições, lançam-se em campanhas com plataformas comuns. Basta ler os documentos de um partido e se alcançará a proposta de todos os demais.

Isto permite que partidos ditos de esquerda busquem personalidades de direita para compor suas chapas. Uma confusão generalizada. Não há fronteiras para saciar os interesses imediatos.

Antigos e rancorosos adversários passam a sorrir em fotografias distribuídas – graças à internet – por toda a parte. Não há o mínimo pudor. Vale tudo.

O velho corrupto torna-se – graças às águas “lustrais” dos interesses – um líder respeitável. Não importa se isto leve ao descrédito da imagem de lideranças. São poucos os que refletem sobre os episódios políticos.

Uma minoria. Esta minoria, que ainda preza valores morais médios, não importa. As minorias só contam nos manuais de ciência política. Na prática, não merecem atenção.

Maquiavel, o sábio florentino, no Brasil, seria um ingênuo à procura de uma causa. Por aqui, ele foi suplantado por um herói nacional: Macunaíma, aquele sem caráter.

Quem viveu, viu os mais absurdos traços de comportamento por parte dos políticos brasileiros. As eleições que se anunciam, em seus preparativos, têm demonstrado, com intensidade, este processo.

Lamenta-se. Com agremiações partidárias mal estruturadas e figurantes indefinidos em suas intenções, vale tudo. A hipocrisia – própria da política – vem atingindo níveis assustadores.

Até outubro, chegaremos a um delírio de acontecimentos impróprios para eleitores bem intencionados. Os acordos eleitorais mostram-se incongruentes. Sem raízes. Só vale o momento.

A política brasileira sofre de mal endêmico. A falta de respeito aos compromissos e a ausência de definições. A conduta dos políticos pátrios resolve-se de conformidade com os acontecimentos.

O liberal de ontem será o socialista de hoje. O quadro de esquerda adapta-se com facilidade aos costumes da direita. Nada é definitivo ou sólido. Tudo se altera de acordo com o movimento de rotação da Terra.

Neste festival de incoerência restam as personalidades centrais. Estas também não cuidam muito de seu passado. Voam de conformidade com o sopro do vento.

Esta fragilidade torna os pleitos um jogo de bingo. Joga-se no candidato melhor apresentado na TV e com mais desenvoltura. Valem os marqueteiros. Pouco importam as mensagens políticas.

Necessita-se de um reforma política que permita definições aos partidos políticos. Estes, que possuem a reserva de mercado das candidaturas, não podem se comportar com agências de colocação.

A missão dos partidos é bem superior. Devem formar quadros e divulgar filosofias políticas. O vínculo deve ser estabelecido por afinidades doutrinárias e não por meros mensalões indignos.

Se no campo político o cenário é desanimador, as instituições judiciais mostram-se claras e precisas em muitas de suas definições. O Supremo Tribunal Federal, na semana que passou, proferiu decisão corajosa.

Incitado a examinar a Lei da Anistia – aquela que permitiu a passagem da ditadura à democracia sem violências ou rompimento da normalidade – proferiu decisão histórica.

Condenou todos os abusos cometidos no decorrer dos conflitos armados dos anos 60/70 e preservou o diploma legal em sua integridade. Modificá-lo seria tarefa do legislativo.

Esta sentença maior confronta-se com outras realidades, onde temas ligados ao passado não permitem que as sociedades avancem e resolvam as questões do presente.

Os políticos causam, por vezes, desânimo. O Judiciário, contudo, tem enfrentado problemas complexos e demonstra sempre maturidade e compreensão da História nacional.

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