DEMOCRACIA E A REALIDADE


Quando se examina o cenário político nacional, o observador se depara com um quadro de imensa complexidade. Primeiro, ele deseja saber que tipo de democracia se encontra presente em nosso País.

 

Ai, o observador sente dificuldade inicial. Como enumerar os elementos que compõe uma verdadeira democracia? Constata que há liberdade de pensamento.

 

É um dado positivo. Todos têm opinião própria sobre os mais diversos acontecimentos. Não há qualquer obstáculo ao livre pensar. É conquista que, em toda a parte, custou uma enormidade de vidas.

 

Surge, após esta constatação, uma nova indagação. Apresentam-se confiáveis as informações recebidas pela cidadania? Aqui as amostras recolhidas levam a um registro.

 

As informações são geradas por centrais únicas de notícias. Basta ver as manchetes dos jornais impressos: são iguais, apesar de originárias de redações diversas.

 

Claro que a cidadania, neste caso, recebe uma versão uniforme dos fatos políticos e sociais. Isto não permite que se instale, no interior das consciências, a boa dialética.

 

Só esta conduz às sínteses individuais. Ou seja, a de cada cidadão. A uniformidade de pensamento é maléfica em todas as atividades humanas, particularmente na política.

 

A política exige pluralidade de visões do mundo. Nela nada pode se apresentar linear. Só as ditaduras contam com o pensamento único. Fora dele geram-se as perseguições e as conseqüentes prisões.

 

A essência da democracia é a liberdade. A liberdade deve produzir pensamentos díspares. Jamais a unicidade e a ortodoxia. Já se passaram os tempos dos dogmas.

 

Esta uma deficiência de nossa democracia. A ausência de pluralidade informativa. Tudo é igual. O pensamento único elaborado por publicitários deforma a verdade.

 

No passado, os teólogos impunham uma só verdade. Hoje, são eles, os publicitários, que desejam conduzir a vontade coletiva. Procuram alterar valores e costumes.

 

Às vezes agem de maneira positiva. Em política, porém, o agir é sempre negativo. Porque distorcem a verdadeira identidade dos candidatos. Transformam fantoches em lideres.

 

Criam falsas figurações da realidade social. A partir do pressuposto de que agir, politicamente, é gerar esperanças, produzem configurações inalcançáveis.

 

Os partidos políticos, por sua vez, dentro dos costumes da democracia pátria, mostram-se incapazes de gerar corpos de doutrina de acordo com as diversas visões da sociedade.

 

Todos se mostram iguais no agir e no elaborar propostas. Os programas partidários gratuitos – no rádio e na televisão – são pobres de conteúdo. Sempre as mesmas falas em personagens diferentes.

 

Não se busca mais, na democracia nativa, a obtenção de novos traços doutrinários e a geração de novas idéias. Esquerda, direita e centro não diferem em nada. Um só objetivo: a conquista de cargos eletivos.

 

Há crises no setor de abastecimento das grandes cidades, especialmente São Paulo. Nenhuma análise convincente é concretizada por parte dos veículos de comunicação ou pelos partidos políticos.

 

Existe um silêncio imposto sobre a calamidade que se anuncia: a falta de água. Os antecedentes que geraram o atual estado de coisas não são examinados.

 

Certamente, em algum momento, houve desídia. Quem a praticou? Na democracia brasileira, conduzida por centros de inteligência altamente remunerados, as crises anunciadas não têm autores.

 

É matéria abstrata. Não se insere no espaço política. Coloca-se no campo da metafísica.

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