DA MENTIRA*


A verdade com o tempo se descobre**

 

A mentira insere-se entre os recursos usuais de  muitas personalidades públicas.

Mentem por interesse egoístico.

Mentem, poucas vezes, por razões de Estado.

A primeira maneira de mentir é indigna e se coloca como própria das consciências mal formadas.

O crápula mente.

O estelionatário mente.

A  mentira é registrada na História ocidental há mais de 2000 anos.

Ou mais precisamente desde 406 a.C..

A peça Filoctetes, de Sófocles, registra o primeiro texto a apontar a mentira como instrumento político.

Ou seja, a segunda maneira de mentir.

Mentir por razões de Estado, hipótese admissível de falsidade, segundo pensadores.

O enredo do drama de Sófocles é singelo, mas profundo:

Odisseu pede a Neoptolemo, jovem honrado, para envolver Filoctetes  com  palavras – mentiras– na busca de obter o seu arco e flecha necessários na luta contra Tróia.

Neoptolemo deve enganar, por palavras, a um interlocutor, exatamente como fazem, hoje, milhares de postulantes a cargos eletivos.

Roubam as mentes dos eleitores.

Quando escolhidos, prosseguem em sua perniciosa  tarefa.

Enganam por palavras à cidadania passiva e desarmada.

Esquecem os maus postulantes e piores mandatários que não se pode triunfar por qualquer meio.

Não admitem que é preferível perder, do que ganhar com desonra.

Criou-se, nos tempos contemporâneos,uma falsa ideia: a honestidade equivale a idiotice.

Ou mais diretamente:

Todo honesto é um idiota.

Uma sociedade não pode viver eternamente envolvida pela mentira.

Fragiliza-se.

Mais grave ainda.

Quando as cúpulas são mentirosas – desonestas – o vírus espalha-se por toda a coletividade.

Aí, o viver coletivo torna-se insuportável.

A violência supera a harmonia.

O roubo à integridade pessoal e patrimonial.

A vida passa a valer um nada.

É levada pelo primeiro facínora.

O pânico atinge todas a mentes.

O convívio humano transforma-se em um pesadelo.

Estamos próximos deste estágio desagregador induzido pela mentira.

Há trapaça presente em todas as oportunidades.

Roubam-se mentes.

Deturpam as consciências os maus agentes políticos.

Esquecem que, na democracia, a mentira, mais cedo ou mais tarde, é expelida.

Para o retorno à uma sociedade estável, onde todos se apresentem confiáveis, é preciso uma catarse coletiva.

Esta será atingida ao final dos múltiplos processos penais que se desenrolam pelo País.

Espera-se que, a final,surjam pessoas virtuosas,aptas a alterar o mau caminho, até agora, trilhado.

Como isto pode acontecer?

Só há uma possibilidade:

O eleitor não se portar como vaquinha de presépio.

Tornar-se um verdadeiro cidadão capaz de recolher as múltiplas mensagens oriundas dos políticos.

Uma vez recolhidas as mensagens, o eleitor deverá realizar uma análise crítica e, então, escolher os que não mentem.

Parece utopia.

É realizável.

Cabe aos eleitores agirem.

Caso gostem de ser enganados, continuem a operar como meros agentes passivos.

Sofrerão as consequências da própria desídia.

A mentira continuará vitoriosa.

Uma lastima.

 


Referências:

*LIICEANU, Gabriel. Da Mentira. Vide Editorial. São Paulo. 2014.

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FREITAS. Camargo. Casanovas. Provérbios e frases proverbiais do Século XVI. Instituto Nacional do Livro Brasília – 1973.

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