CONSCIÊNCIAS EM LIQUIDAÇÃO


Volta-se a assunto já tratado. Pela relevância. A imprensa noticiou, a partir das informações do Tribunal Superior Eleitoral, o valor das contribuições doadas na última campanha.

Um horror. Primeiro pela grandeza dos valores. Segundo pela origem dos recursos conferidos aos partidos políticos. Os maiores doadores, como revelado, foram as empreiteiras.
Exatamente isto. As empreiteiras foram as pessoas jurídicas que mais colaboraram com os partidos políticos nas eleições de outubro último. As importâncias são colossais.
Dignas de um magnata obsequioso. Como não existe, na vida real, favor gratuito, surge à perplexidade. Nenhuma empreiteira é tão adepta da democracia, quanto indicam os valores registrados nas contabilidades partidárias.
Ora, a conclusão inevitável surge de pronto. Há interesses em jogo. Ou na linguagem do sul da Itália “me dá uma coisa, que eu lhe do outra coisa”. Simples troca de favores.
Só que as benesses a serem conferidas pelas empreiteiras são obras públicas: estradas, usinas, hospitais, terminais rodoviários ou portuários. Enfim, um sem número de grandes e pequenas obras.
A ministra Carmem Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, com lucidez expressiva captou o assunto e deu a necessária solução. Pessoa jurídica não pode ser doadora em campanhas eleitorais.
Elas não exercem os atos da cidadania. Estes são estritamente concretizados por eleitores, pessoas físicas. Esta é uma realidade expressiva e, portanto, de uma clareza meridiana.
A legislação – e por que não a jurisprudência eleitoral? – devem se ocupar do tema antes do próximo pleito de 2014.
As campanhas eleitorais necessitam ser mais simples. A televisão precisa ser utilizada pelos candidatos sem os artifícios originários dos publicitários. O encarecimento das campanhas atingiu níveis insuportáveis.
Isto leva a deformações morais inaceitáveis. Nos últimos grandes processos crimes, o ponto central sempre foi um “marqueteiro”. Eles, os marqueteiros, custam somas extraordinárias.
Nenhum partido está livre da praga que atingiu a política brasileira. Os candidatos não se aproximam diretamente dos eleitores. Apenas se utilizam a televisão.
Vão a estúdios. Jamais se expõe a contatos diretos com a sociedade. No passado, inclusive nos anos da redemocratização, debates em universidades e sindicatos eram comuns.
Os candidatos se expunham. Desejavam oferecer – ao vivo e sem intermediários – suas verdadeiras personalidades e idéias. Hoje, tudo é diferente.
Os agentes políticos se tornaram meros bonecos à disposição dos operadores de imagens. Uma lástima. Muitas vezes, o eleito não diz a que veio.
A sua “filosofia” é da mera imagem imposta por seu marqueteiro. O pensamento político é nenhum. Esta situação nos levará a uma inevitável decadência das atividades públicas.
Os mais hábeis na arrecadação de fundos serão os mais bem sucedidos nos pleitos eleitorais. Aquele com bom trânsito, no alto empresariado, contará com mais possibilidades de êxito.
A democracia deve ser um regime da austeridade. Do respeito aos interesses particulares. Ninguém pode ingressar em uma campanha com dívidas que serão pagas com obras públicas.
Os costumes políticos precisam ser alterados. Como estão, caminhamos ladeira abaixo. Cada pleito, uma nova decepção. Basta olhar os demonstrativos da Justiça Eleitoral.
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