CLASSE MÉDIA VAI AO INFERNO


Há uma desesperança latente nos segmentos de classe média. Todos os seus valores tradicionais ruíram. Durante largo tempo, costumes e comportamentos se mostravam estáveis.

De repente um mundo sólido, onde a religião servia de elemento de coesão social, definhou. Tudo parece em decomposição. Os laços familiares, com a figura soberana do pai, alteraram-se.

Marido e mulher dividem a regência da vida conjugal. A união estável substituiu o secular casamento. Casais homoafetivos tornaram-se costumeiros. Os filhos, muitas vezes, são pré-fabricados em provetas.

Todas estas novas configurações abalaram muitas pessoas. Particularmente, os mais velhos. Encontram-se atônitos. Os jovens, por seu turno, não reconhecem figuras simbólicas na geração de seus pais.

Com este quadro, é fácil compreender os mascarados e suas ações violentas. Querem protestar. Caoticamente. Contra tudo e contra todos. Não encontram exemplos a serem seguidos.

Começar tudo de novo é a mensagem ingênua dos bandos que invadem as cidades. Ocupam suas ruas, avenidas e praças. Não é possível começar tudo de novo. Mas é oportuno pensar no que esta aí.

Os políticos – aqui e por toda a parte – mostram-se incapazes de responder as demandas. Os parlamentos são aparelhos burgueses concebidos para afastar o povo das decisões.

Já não respondem às atuais necessidades de exposição de vontades da sociedade. Decidem de acordo com as intenções dos Poderes Executivos. O presidente, o governador ou o prefeito querem. Assim será feito.

Os parlamentares são objetos de ressonância da vontade dos chefes do Executivo. Participam de uma macabra dança. Esta é sempre igual. Desgraçadamente igual.

Os estados burocráticos – e o Brasil por sua herança portuguesa é exemplar privilegiado – sempre sufocam as coletividades. É da História. Esta mostra, como traço expressivo do estado burocrático, o contínuo aumento de impostos.

Foi assim na velha Roma e antes no Egito dos faraós. Depois, nos anos que antecederam a Revolução Francesa. Não é diferente nestes trópicos sem diretrizes.

Os impostos são aumentados sem qualquer participação popular. Nenhuma consulta. Sequer uma análise da capacidade contributiva dos vários segmentos da cidadania.

A máquina burocrática – e seus asseclas – quer mais arrecadação. Não importa se o aposentado será esmagado. O assalariado oprimido na satisfação de suas necessidades mínimas.

O que interessa é recolher mais impostos para prestigiar os pesados quadros funcionais da administração pública. Nada de justiça tributária. A classe média, antes que qualquer outra, deve pagar. Em silêncio.

Dentro deste cenário, a conseqüência imediata é normal. A revolta sem limites de muitos. Já não têm em quem acreditar. Já não contam com heróis para enaltecer.

Caminha-se por veredas estranhas. Veredas sem retorno. Governantes fracos inspiram revoltas populares. Valores rompidos levam à construção de novas formas de convivência.

Tudo isto tem um preço. A violência criminosa ou a violência sem causa específica. Onde tudo vale, todo o protesto se torna válido. A sociedade está exausta.

Basta aguardar os próximos meses e se verá o crescimento do desamor de todos contra a situação amarga em que se encontram todos os setores sociais, especialmente a chamada classe média.

Esta está sendo aniquilada.

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