A vida política é repleta de desafios. A todo o momento, surgem situações inesperadas. As variáveis são imensas. O administrador público é sempre submetido a desafios.
No campo político, a malícia é inerente à atividade. Todos lutam pelo Poder e este, para ser conquistado, é objeto das mais insensatas ações. Os limites entre o bem e o mal, por vezes, são tênues.
Neste cenário, talvez, a mais dura experiência é a da traição. O companheiro que trai a confiança é desleal. Desmerece qualquer consideração.
Não pode o administrador público eleito para um cargo majoritário permitir a traição entre os integrantes de sua administração. Caso contrário, estará, por seu turno, traindo a confiança depositada em seu nome pelo eleitorado.
O detentor de um cargo de confiança, quando citado como autor de um ato ilícito, não pode permanecer nos quadros superiores da administração. Fragilizou-se.
É princípio básico. Pode se afirmar que muitas vezes as meras suposições de ilicitude não são comprovadas. Apresentam-se como artimanha maliciosa dos adversários políticos.
É verdade. No entanto, quando a imagem de malversação dos negócios públicos torna-se permanente, cabe ao chefe do Executivo dar satisfação à opinião pública, sob pena de parecer conivente.
Há nos anais da vida pública brasileira um caso exemplar. Foi propiciado por um homem público reto e profundamente simples em seus atos e ações.
Não queria ouropéis. Desejava servir com humildade. Parecia, por vezes, áspero e genioso. Era honesto. Fazia questão de oferecer exemplos de honestidade.
Esta figura única e pouco lembrada – porque muito marcada, pela sua simplicidade, por alguns veículos de comunicação – foi o presidente Itamar Franco.
Deixou, como legado, uma atitude única na forma de relacionamento entre membros de uma administração. Um de seus auxiliares diretos, amigo de longa data, foi acusado indevidamente.
O presidente não teve dúvidas. Entre a amizade e a preservação da integridade da administração, optou prontamente pela moralidade pública.
Instaurou procedimento disciplinar contra o acusado. Afastou-o de seu cargo. Deu uma satisfação à sociedade. A final, terminado o processo, o servidor foi inocentado.
O Presidente Itamar Franco agiu com respeito à pessoa. Fez o auxiliar voltar ao cargo de confiança que ocupava antes do procedimento investigatório.
Por que este exemplo não é seguindo pelos atuais administradores públicos? Lêem-se todos os dias notícias argüindo suspeições contra certos administradores ocupantes de cargos de confiança.
A resposta é o silêncio ou, então, exposições que não convencem. Seria oportuno dar uma resposta imediata à cidadania. Esta registra todos os acontecimentos e aguarda o momento de registrar seu protesto.
O próximo ano é momento eleitoral. O eleitor vai armazenando em seu acervo de informações todos os atos públicos. Considera cinismo defender sem conhecer a verdade.
Não acredita, de imediato, na inocência dos apontados pelos meios de comunicação. Deseja conhecer o final das investigações em curso. O administrador superior que atua, mediante meias palavras, erra.
Mostra-se permissivo. Pouco atento aos clamores populares. Sofrerá o ônus de sua iniqüidade. O preço será o voto negado. Não pode haver fragilidades em assuntos de interesse público. É cinismo.