CIDADÃO INFORMADO


Onde errou o governo? Onde erraram os políticos? Estas são as indagações mais costumeiras nos diálogos entre pessoas de todas as atividades sociais.

As respostas podem ser inúmeras. Hospitais em mau estado. Mobilidade urbana desastrosa. Transportes precários. Aposentadorias insatisfatórias. Corrupção generalizada. Criminalidade ascendente.

Há, pois, múltiplos motivos para a revolta cidadã. Não foram estes, porém, os desencadeadores dos movimentos sociais que se estendem por todo o território nacional.

A falha dos governos e dos políticos encontra-se em outro cenário. Mais dinâmico e penetrante que todas as mazelas presentes no panorama social. Um erro estúpido de avaliação.

A cidadania, nos quinhentos anos de existência do Brasil, sempre foi algo desprezado. Uma cidadania para inglês ver. Só de fachada. Alguns integrantes das minorias “brincavam” de fazer política.

Tudo consistia em um jogo de faz de conta. Desde o Império e passando por todas as formas republicanas, alguns mandavam e o povo obedecia. A máxima corrente era: quem tem patrão tem tudo.

Era a política do pão e relho. Sequer pão e circo dos romanos. Aqui, a borracha descia toda vez que a plebe levantava a cabeça. As oligarquias – ainda existentes – dominavam todo o panorama político.

Ganharam eleições realizadas no “bico da pena” até 1930. Depois, alimentaram os currais eleitorais por toda a parte. Utilizaram lideres populistas para envolver as mentes.

Esqueceram os políticos e os governos de que a urbanização, já por si só, aumenta o grau de politização da sociedade. Acelera a alfabetização de grandes segmentos populares. Abre as escolas superiores para os filhos de todas as classes sociais.

A todos estes elementos devem-se adicionar os novos instrumentos de conhecimento. No passado, os diários impressos só chegavam às mãos dos senhores das terras e dos poucos empresários nas cidades.

A massa – para a felicidade dos governantes – mantinha-se ignara. Pecava contra Deus aquele que se alfabetizasse. Às mulheres era negado ao acesso à educação metodizada.

Tudo mudou. Hoje, as pessoas possuem rádio e televisão. O uso do computador universalizou a informação. Ninguém ignora as atuações dos parlamentares ou dos administradores públicos.

A transparência tornou-se obrigação ética e legal. Tudo deve ser às claras. Nada fica nos escaninhos dos palácios. A vida privada das personalidades públicas não conhece a intimidade.

Ora, neste ambiente sadio, propiciado pela democracia, seria impossível imaginar que a passividade popular se manteria eternamente. Rompeu-se. Não serão discursos vazios ou propostas ingênuas que farão mudar o panorama.

Meras promessas vazias poderão acalmar a situação por alguém tempo. Mas, se nada for fundamentalmente alterado, tudo voltará a acontecer com expressividade.

A paz dos cemitérios acabou. O cidadão subjugado passou a ser o cidadão informado.

print